“Portugal não era um país para mulheres”

Paula Rego escolheu Londres em 1952, onde ingressou na Slade School of Fine Art.

É lá que está, até hoje, apesar de um curto retorno a Portugal, à Ericeira.

Foi no Colégio St. Julian que os professores reconheceram pela primeira vez em Paula Rego o jeito para a pintura. Em 1954, foi reconhecida com o primeiro prémio de Summer Composition da Slade School of Fine Art. A partir daí, não faltam exposições, prémios portugueses e estrangeiros e o espanto dos críticos.

Recentemente a sua pintura The Cadet and his Sister foi vendida por 1,35 milhões de euros pela Sotheby’s. Conhecida pela ligação aos contos, às figuras do imaginário, não são raras as vezes em que Paula Rego passa para a tela histórias que lhe contaram em criança, bem como alguns clássicos da literatura, como Eça de Queirós. Cascais alberga mais de 300 impressões, desenhos e pinturas suas, assim como obras do seu marido, Victor Willing, que também se encontram na Casa das Histórias.

Nasceu em Lisboa, mas cresceu sempre com a cultura inglesa bem presente através da St. Julian’s School. Estava destinado que havia de se mudar para Inglaterra?

Foi o meu pai que me mandou. Ele disse que Portugal não era um país para mulheres. Nesse tempo da ditadura, também não era um país para homens.

Alguma vez lhe fecharam ou abriram portas por ser portuguesa?

Em Londres, ninguém abre portas por ser português.
Mas o Jorge Sampaio convidou-me para pintar quadros sobre a vida da Nossa Senhora na capela do Palácio de Belém. Só tinha janelas com cortinas. E era simplesmente um quarto interior. Eu fiquei muito contente e gostei muito de fazer esse trabalho.

Sente de alguma forma que representa Portugal no estrangeiro? Sente o apreço dos portugueses?

Os portugueses dão-me muito valor, mas hoje em dia os ingleses também. Não represento Portugal, não sou diplomata.

Ter a sua Casa das Histórias, o que significa para si? Os ingleses costumam visitar? O que lhe dizem?

Dizem que gostam. É muito simpático terem feito aquilo para mim, espero que gostem.

Há algo português de que sinta falta quando está em Inglaterra? E vice-versa?

O fado, as praias, as bolas de berlim. E quando estou em Portugal sinto falta das lojas e do meu ateliê.

 

Paula Rego, Pintora portuguesa atualmente em Londres

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