Aos 48 anos, Madonna Buder começou a correr, tendo-se tornado, aos 82, na triatleta mais velha do mundo a participar em campeonatos Ironman. No ano passado, com 86, foi a estrela de um anúncio da Nike. Em 2016, na primeira Semana de Moda London 50+, desfilaram na passadeira vermelha nomes como Daphne Selfe (87 anos) e Marie Helvin (63). Na chamada “economia da longevidade”, a idade deixou de ter peso. É só um número, minhas senhoras e meus senhores.
A ideia de realizar pela primeira vez o evento 50+ Fashion Week não foi um golpe de marketing. Na verdade, partiu de uma análise de mercado que concluiu que as mulheres mais velhas se sentiam ignoradas pela indústria da moda. As cinquentonas, e por aí fora, desejavam estar representadas na passadeira vermelha, e o facto de este grupo de mulheres constituir 4% do mercado britânico, com uma taxa de crescimento estimada em 1% por ano (segundo o Centro de Pesquisa de Economia e Negócios), terá ajudado a identificar a oportunidade de negócio. A primeira 50+ Fashion Week, em Londres, no ano passado, exibiu assim modelos como Daphne Selfe (87 anos), com cabelos grisalhos, calças de cintura elástica e vestidos flutuantes com mangas a cobrir os braços, para ir ao encontro das necessidades das mulheres com mais de 50 anos.
“Basta. É altura de mudar a história do envelhecimento”
Para os mais distraídos, este acontecimento traduz uma das 10 tendências mundiais de consumo previstas para 2017, no Relatório Euromonitor International: Ageing. Os 50 são os novos 30 naquela que é hoje designada “economia da longevidade”.
Em 2017, perto de um quarto da totalidade de pessoas no mundo terão 50 anos, o que será um número recorde. Ou seja, o consumidor está mais velho mas trabalha até mais tarde e tem hoje um papel ativo, representando um importante lobby na atividade económica global. “Basta. É altura de mudar a história do envelhecimento”, declarava recentemente o site High 50, inspirado pelo slogan ‘A idade tem os seus benefícios’. A tendência é ainda relatada em livros como New Aging: Live Smarter Now to Live Better Forever, de Matthias Hollwich, um autor empenhado em partilhar com os leitores ideias para consumir e viver uma vida mais longa e saudável. Ideias que vão da moda ao exercício e wellness, sem esquecer as novas tecnologias.
Isso já não é para minha idade?
Apesar de o bilhete de identidade assinalar mais de meio século vivido, a verdade é que o tipo de comportamento se aproxima do de um consumidor jovem. A expressão de “coisas para a tua idade” deixa de fazer sentido para dar lugar a novos conceitos.
Minhas senhoras e meus senhores, apresento-vos a “midorexia”. O termo terá sido inventado pela cronista Shane Watson, do jornal britânico The Telegraph, e a moda pegou. Shane utilizou no ano passado a palavra “midorexia” para se referir às pessoas de meia-idade e aos consumidores mais velhos que têm um comportamento tipicamente mais jovem: “Não só podemos ser atraentes para sempre, como também a idade nos converte em pessoas mais sedutoras, e seria um crime não aproveitarmos ao máximo.”
As novas tendências de consumo globais sustentam que deixou de haver desportos e roupa para jovens ou velhos (veja-se o caso da americana Madonna Buder, que aos 14 anos decidiu que iria ser freira, aos 48 quis ser triatleta e aos 86 foi estrela da Nike). O novo consumidor tem mais idade. Mas a idade é só um número que vem no passaporte. É por isso que o diretor criativo da Gucci, Alessandro Michele, escolheu Vanessa Redgrave, de 79 anos, para a sua campanha, em vez de uma jovem que faz sucesso no Instagram.
Venham de lá os novos 50!
“Velhos são os trapos”
As marcas Kate Spade e Citroën contrataram uma lenda viva da moda internacional que tem hoje 96 anos, Iris Apfel. Recentemente, um hit da plataforma de séries e filmes Netflix tem como estrelas Jane Fonda, de 79 anos, e Lily Tomlin, de 78, na série Grace & Frankie, que aborda temas como a sexualidade após os 60 anos. Na moda, a cadeia de roupa Zara acaba de lançar, para a temporada outono/inverno deste ano, a coleção Timeless, na qual figuram modelos com uma idade mais avançada.
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