Olha que duas_Maria João Luís

Olha que duas

Ambas temos três filhos, um casamento de longa data, e um compromisso sério com o trabalho. Temos algo em comum. Ah, e também temos mais de 50! Convidei a Maria João Luís para falar dos novos 50. Quem melhor que esta talentosa atriz para nos falar de arte, seja ela qual for. Neste caso, a arte de bem envelhecer.

A Maria João Luís já deu milhentas entrevistas. Uma delas ditou que estivéssemos aqui hoje juntas nesta capa e nesta sessão fotográfica. O artigo tinha como título uma citação da Maria João: “Tenho 53 anos mas estou aqui para as curvas.” Achei delicioso. Já lhe tinha feito dois convites para participar em Júlia – De Bem com a Vida. O que para uma protagonista de novelas, com uma agenda preenchida de gravações, é uma missão impossível. À terceira, seria de vez. Numa edição dedicada à idade, só fazia sentido ter alguém poderoso como a Maria João Luís.

Assim foi. A ‘inspetora-chefe da polícia’, prestes a despedir-se de Amor Maior, comentava o seu gosto por papéis de ação: “Aprecio este tipo de cenas com pistolas e tenho facilidade em mexer-me bem. Digamos que faço quedas aparatosas.” Nas horas livres, faz bicicleta, caminhadas, natação, e iniciou o ginásio há um mês. “Começo a sentir alguma fragilidade nas costas e julgo que é importante estarmos atentos a estes sinais que a idade nos vai dando. Para mim, é importante ir equilibrando esses sinais. O pior de tudo é a lassidão, é o deixar andar.” Palavras de uma mulher que não pára em palco. E que não pára de nos surpreender. Nos próximos tempos, vai aproveitar o intervalo das filmagens frenéticas da televisão para… ‘descansar’ em palco, pela companhia de teatro que, juntamente com o marido, Pedro Domingos, criou há oito anos.

O Teatro da Terra fica em Ponte de Sor, no Alentejo, onde o casal tinha um monte e o sonho de poder fazer um projeto com a comunidade. Concretizou-se. Com pompa e toda a circunstância. Afinal não era (só mais) uma ideia freak. Sim, Maria João já foi jovem. E freak. Daquelas que desistem da escola aos 15 anos e vivem em comunidades punk que moram em lojas alugadas e andam à boleia, de mochila às costas, a fazer arte e a recitar poemas de Cesariny, surrealista que nem sonhava vir a interpretar um dia mais tarde.

Olhando para trás, farias algo diferente? “Talvez. Se fosse possível − como se fosse possível! –, teria evitado preocupações aos meus pais. Pelo menos, teria parado para lhes dizer que poderiam estar tranquilos, pois eu sabia o que estava a fazer.”
Foi isso que te ensinou a idade?, pergunto-lhe. “Viver uma coisa de cada vez – é isto que a idade me está a ensinar. Sempre passei muitos anos da minha vida a achar que estava a perder alguma coisa, algo que não estava a viver, e isso deu-me pressa de viver. E a verdade é que foi também essa pressa que me permitiu viver muita coisa e aprender muito. Mas a idade trouxe-me de facto serenidade.”

E beleza, acrescentaria. Maria João Luís, que raramente se maquilha no dia a dia, é uma mulher muito bonita. “Hoje em dia, parece-me que há um outro público que procura outros tipos de estética”, comenta, não sem acrescentar aquele que é para si um ícone de beleza. “O meu marido é lindo!”
É com ele que gostaria de fazer em breve uma viagem ao México e satisfazer a sua curiosidade pelas civilizações mais antigas.

A atriz e encenadora Maria João Luís não come carne vermelha, prefere uma refeição de legumes, vegetais, fruta e algas, como a espirulina. Conta que, para si, comportamentos pouco saudáveis são aqueles que revelam “falta de alegria”. E fala-me do que mais a envelhece: “Ver as notícias do mundo. É algo que me angustia. Parece que não acontece nada de bom. Eu não acredito que a única notícia positiva e que valha tempo de antena num telejornal seja o nosso Presidente da República a tomar banho em Cascais…”

Em dezembro, comemora 53 anos. E a celebração é garantida. Os anos não farão diferença na arte de celebrar. A festa continua. Em família e com muito trabalho. A primeira ocupará sempre um primeiro lugar. “Mas onde eu sou ‘eu’, onde me encontro com as minhas alegria e angústias”, conta Maria João, “é quando estou a trabalhar. Sou workaholic”. Bem-vinda ao grupo, Maria João!

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