Aprender em 2018! Aprender é o tema de Janeiro!

Júlia e Júlio. Ao piano.  

Aprender. Acredito que estamos sempre a (tempo de) aprender. E por isso esta minha Resolução de Ano Novo. Aprender a tocar… Piano! Tudo para correr bem. Por um lado, tenho a ciência a meu favor. Estudos garantem que quem faz resoluções de ano novo tem maiores probabilidades de concretizar os seus desejo. Do outro lado, tenho um senhor sentado ao piano que se chama Júlio Resende. É o meu primeiro meu convidado de 2018. Em Janeiro, o tema de Júlia – De Bem com a Vida é “aprender”. Apresento-vos um Mestre. A abarrotar de talento, entre o fado, o improviso e o instrumento. Apresento-vos o meu professor de piano por um dia!   

Encontro marcado na Fábrica Braço de Prata, em Lisboa, junto ao piano de cauda que encanta uma das salas de concertos deste espaço cultural. Amplo e movimentado, faz-se contudo silêncio quando Júlio Resende se senta ao piano e nos convida a viajar através do improviso dos seus dedos.

Júlio Resende, o pianista que La Vanguardia descreveu em 2014 como “uma das promessas do Jazz Português”, nasceu no Algarve. Com apenas quatro anos, começou a tocar piano, o que significa 30 anos de experiência. Dos seus trabalhos, tenho em casa e ouço com admiração o “Amália por Júlio Resende”, um álbum de 2013 classificado com 5 estrelas pela prestigiada CLASSICA, revista francesa que promove os melhores músicos e instrumentistas do mundo.

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Júlio Resende, o Mestre e o seu instrumento

 

“Pudesse também Amália aclamá-lo…”, escreveu  Syma Tariq, na Monocle 24, Reino Unido, em Julho 2014.

Com a sala conquistada, convida-me para a primeira lição. Começamos pelos toques de perilim-pim-pim nas teclas como primeiro incentivo. Funciona. Vamos a isso! Mas não contenho a pergunta: “burro velho aprende piano?”

“Diria que no início, na infância, aprendemos mais depressa. Há mais espaço dentro de nós, quando somos mais jovens. Temos mais capacidade de absorção. Mas julgo que se aprende até ao fim da vida, por isso, sim é possível aprender. Eu continuo a aprender coisas”, conta o pianista português.

A conversa remete-nos para os benefícios de adquirir novos conhecimentos na música, sustentados pela mão cheia de estudos dedicados à matéria. Num deles, destacado no The Guardian, uma neuropsicóloga da Universidade de Westminster aborda o resultado de uma investigação de 2016, em que se conclui que aprender um instrumento ajuda a criar e a manter um funcionamento cerebral ativo e saudável.

(A minha Resolução de Ano Novo tem fundamentação científica! 😊

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Em aula de piano. Resolução 2018!

Júlio fala-me mais de si. E falar de si é falar também dos seus “mestres”, desde o Hot Clube ao Berklee College of Music, sem esquecer a Université de St. Denis em Paris, aquela a que chama o seu “YouTube” da altura, uma vez que foi aqui que descobriu os sons e discos, aos quais nunca teria tido acesso a partir de Lisboa, conta o também professor de Piano-Jazz na Universidade de Aveiro.

“Da experiência que tenho, há pessoas que lamentam nunca terem estudado música ou um instrumento. Mas nunca encontrei alguém que se arrependesse de ter descoberto a bateria, o piano”, diz Júlio. “A não ser os vizinhos do músico”,  corrige, com um sorriso.

Agora, silêncio que se vai falar de fado. Confesso a Júlio que de início não morria de amores pelo fado. Aprendi a gostar, aos poucos, com os CDs que me apareciam em casa. Culpa do meu marido, que um dia me apresentou “Amália por Júlio Resende”, um álbum editado dezassete anos depois da morte de Amália Rodrigues e onde, pela primeira vez, um músico toca temas como Casa Portuguesa, Barco Negro, ou Vou Dar de Beber à Dor.

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Júlia e Júlio. A aprendiz e o mestre!

“O Fado tem-se transformado num género que as pessoas aprendem a gostar – até as crianças! Mas temos de se estar disponíveis para gostar. Não podemos ser preconceituosos. E, para mim, jazz e fado têm a mesma capacidade de ser beleza. Todos os géneros têm essa capacidade. O preconceito é perigoso…”, defende Júlio.

Aprender em 2018! Aprender é o tema de Janeiro! JUlio-Resende-o-Mestre

Um talento. Em piano, jazz, fado, improviso…

E o professor que se encontra à nossa frente, de teclas brancas e pretas reluzentes? O que aprendeu Júlio com ele?

“Aprendi que cada coisa que fazemos pode ser trabalhada e desenvolvida ao longo da vida, toda uma vida. E a própria vida pode não chegar para cada uma dessas coisas. Para tudo – a mulher, os filhos, a profissão, a vocação… Cada uma destas vertentes pode ser tão rica, que pode levar a vida toda a ser descoberta, e a vida não chega. E o piano ensina-me isso. Tão rico, que a vida toda não chega.”

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