Orgulho. A Francisca, a neta mais velha, já está no 1º ano e este foi o primeiro fim de semana a executar os seus trabalhos escolares.
Os TPCs (“Trabalhos de Casa”) são muito importantes e contribuem para o sucesso escolar das crianças. Certo ou errado? A frase coloca-nos aqui algumas rasteiras.
Está certo…
… se concordarmos com a opinião de alguns pais, professores e investigadores que defendem a perspetiva de Andy Wiggins, diretor de um centro de estudos, em Hampshire, Inglaterra. Diz ele (no The Telegraph) que os TPCs têm três objetivos principais: consolidação ou desenvolvimento da aprendizagem que ocorre dentro da sala de aula; dar a oportunidade às crianças de explorar ou aumentar a sua liberdade; e funciona ainda como um exercício para aplicar as capacidades na gestão de cargas de trabalho e de cumprimento de prazos”.
Está errado…
… se concordarmos com Brandy Young. Esta educadora do segundo ciclo dá aulas numa escola no estado do Texas, Estados Unidos, onde reclama o título de “No Homework Teacher” (A Professora que não passa Trabalhos de Casa). Desde 2016, altura em que a carta que enviou aos pais tornou-se viral, Brandy mantém a política “sem trabalhos de casa”. Mas não está sozinha na decisão.
Carta da Professora Brandy Young aos Pais
“Depois de muita pesquisa este verão, estou a tentar algo novo. Os Trabalhos de Casa apenas consistem em trabalhos que as as crianças não conseguem terminar durante o dia de escola. Este ano não haverá trabalhos de casa.
A investigação que tem sido realizada não tem dado provas de que os trabalhos de casa aumentam a performance. Por isso, peço-vos que aproveitem os vossos finais de tarde a fazer algo que efetivamente está provado aumentar o sucesso escolar. Jantem juntos, como uma família, leiam juntos, brinquem ao ar livre e deitem as crianças cedo.
Obrigada
Quando tomou a decisão, esta professora foi recebida com contestação e aplausos. Algumas famílias detestaram o sinal de inovação, considerando que a ideia de substituir os TPCs por atividades lúdicas seria inexequível para vários agregados. Em escolas, onde esta medida foi posteriormente adoptada por outros professores, há casos de famílias que optaram inclusive por abandonar a escola.
Mas também há elogios como o desta mãe: partilhou a carta da professora Brandy na sua página pessoal de facebook e escreveu que a sua filha tinha voltado a adorar a escola!
Alfie Kohn é o autor do livro “O Mito dos Trabalhos de Casa” e tem defendido com unhas e dentes a sua causa. Para Alfie, os trabalhos de casa são uma má prática escolar: “são uma forma muito eficaz de extinguir a curiosidade das crianças”. Num entrevista muito curiosa ao New York Times, este autor evoca os exemplos da Dinamarca e do Japão, países que costumam estar à frente dos Estados Unidos em matérias de avaliação nas área de matemática e ciências, e que apresentam uma carga de trabalhos de casa bastante inferior, comparativamente.
Alfie dizia: “eles (professores da Dinamarca e Japão) não tentam transformar crianças em calculadores com pernas”.
Os países que despendem mais e menos tempo com os TPCs?
Um estudo feito em 29 países chegou à média das horas que dedicamos, por semana, aos trabalhos de casa dos nossos filhos: 7 horas em média. Sendo que, revela a pesquisa, são os países mais pobres que lideram a tabela: na Índia, os pais passam 12 horas por semana a ajudarem os seus filhos a realizarem os trabalhos de casa, enquanto que no Japão e na Finlândia, esta carga é de apenas 3 horas. (Portugal não foi envolvido pelo estudo). A razão mais frequente para não ajudar os filhos nos TPC é a “falta de tempo”, respondem. A verdade é que… se tivermos tempo para verificar os resultados dos testes internacionais de avaliações, vamos chegar à conclusão de que a Finlândia está à frente. E a resposta certa para este sucesso não estará nos TPC!