Ainda não vos disse, mas gosto muito do meu novo programa. Amanhã, dia 8 de novembro, completamos um mês de emissões. E foi um mês magnífico. Raramente os sonhos se cumprem com tanta precisão, mas neste caso, aconteceu. Feito este balanço feliz, sinto a necessidade de vos contar mais.
Este é o resultado de ter o maior luxo possível em televisão, tenho tempo para falar com os meus convidados. E fica sempre mais no meu colo, do que ouvi e senti. Ontem esteve sentado ao meu lado João Paulo Sacadura, colega da área da comunicação, homem das palavras dos livros e da cultura. Mas ontem falamos de amor, viuvez, filhos criados sem a mãe e uma família indefectível.
Não houve tempo para contar que este homem, que sempre se multiplicou em mil frentes, escrevendo textos para televisão, livros, apresentações, prefácios e apresentando magazines sobre cultura, foi apanhado pela crise da indústria da comunicação, da qual o público nada sabe, distraídos pelas manchetes sobre contratações e questões que apenas fazem parte de uma pequena parte da pirâmide da indústria da comunicação.
Estamos em crise e esta é a mais absoluta das verdades. Não há trabalho para todos e todos os anos, vamos encolher as nossas fileiras. Antes que me apontem o dedo e sublinhem um poder que não possuo, quis só contar-vos que este homem, que eu sempre vi a rir e a brincar, cinquentão enxuto e bem falante, ontem só baixou a guarda para falar desta mágoa.
Falta-lhe o trabalho na sua área, faltam as certezas para segurar a etapa final dos estudos dos seus filhos cheios de talento. Um estuda neurociência, o outro psicologia. Muitos dos que me estão a ler devem sofrer com o mesmo problema ou até piores nas suas áreas da atividade.
Detenho-me nos olhos rasos de lágrimas do meu convidado, porque sei que existem outros homens e mulheres a chorarem pelas mesmas razões. E não, meus amigos , não pensem que eu tenho uma varinha mágica que pode resolver isto. Tenho apenas um sofá para vou ouvir.