ValuAble

“A taxa de insatisfação dos clientes diminui quando estes são atendidos por um jovem com uma Perturbação do Desenvolvimento Intelectual”, Laura Bastos, programa ValueAble

O Projeto ValueAble está a ser implementado em Portugal e em outros cinco países. O objetivo é incluir Pessoas com Deficiência Intelectual no mercado de trabalho. Faltam ainda empresas despertas para a realidade destes colaboradores empenhados e dedicados.  Não faltam benefícios nem estímulos para as empresas socialmente responsáveis que optarem pelo Selo Valueable. Entrevista com a psicóloga Laura Bastos, do Centro DIFERENÇAS.

“Após perceberem que afinal é mais fácil do que estavam à espera, as empresas ficam recetivas para aceitar outro estagiário com Perturbação do Desenvolvimento Intelectual e, em alguns casos, após o estágio, decidem ficar com o jovem nos quadros da empresa e celebram um contrato de trabalho”

Laura Bastos, psicóloga, programa ValueAble

 “A taxa de insatisfação dos clientes diminui quando são atendidos por um jovem com uma Perturbação do Desenvolvimento Intelectual. Geralmente  os clientes mostram grande contentamento  e elogiam a empresa por terem alguém com PDI na sua equipa”.

Laura Bastos, psicóloga, programa ValueAble

ValueAble: pode apresentar-nos este programa e explicar-nos como está a decorrer em Portugal?

A Rede ValueAble foi criada na continuidade do projeto Erasmus+ “On my own…at work” financiado pela Comissão Europeia de 2014 a 2017. A rede Valueable é o resultado de um projeto europeu envolvendo uma multiplicidade de parceiros empresariais e não empresariais, localizada em seis países diferentes: Alemanha, Espanha, Hungria, Itália, Portugal e Turquia.

Pretende melhorar a responsabilidade social das empresas e o compromisso social empresarial, promovendo a inclusão no mercado de trabalho de Pessoas com Deficiência Intelectual (PDI) através da disseminação de colocações específicas (estágios e/ou empregos) na indústria hoteleira e de restauração. ValueAble é uma certificação internacional que atesta que as empresas às quais foi atribuído, pertencem a uma rede europeia de hotéis e restaurantes socialmente responsáveis, que oferecem oportunidades de desenvolvimento profissional, a pessoas com PDI.

Conta já com o compromisso de mais de 100 hotéis, restaurantes e cafés, a trabalhar com pessoas com deficiência intelectual, quer através de estágios ou de contratos de trabalho.

A marca registada “VALUEABLE, handing opportunities” é destinada a todas as empresas (fornecimento alimentar e alojamento temporário) que: cumpram com a legislação nacional respeitante à empregabilidade das pessoas com deficiência, estejam empenhadas em incluir pessoas com PDI na sua força de trabalho, fornecendo estágios e/ou recrutando-os e cumprindo as regras fornecidas por um código de conduta, entregue às empresas.

Quais têm sido os obstáculos deste projeto?

Abrir novas portas é sempre um desafio, mas desde há cerca de um ano para cá temos notado uma diferença na adesão dos hotéis e restaurantes. Sentimos que existe uma maior consciencialização e uma maior preocupação com a responsabilidade social.

Ainda temos um longo caminho a percorrer e muito poucas respostas. Continuamos a nossa busca por novas parcerias para dar resposta às necessidades dos jovens, que, quando chega a altura de entrar para o mercado de trabalho, sentem-se um pouco desamparados e com falta de locais de trabalho onde possam mostrar o seu valor e competências.

Apesar da falta de empregadores, como tem sido a receptividade daqueles que aderem?

Tem sido boa, regra geral os empregadores que dão a oportunidade de um estágio ficam muito satisfeitos, percebem que, com adequação e tutori,a estes jovens são realmente uma mais valia para a empresa. Na maioria dos locais, depois de perceberem que é mais fácil do que estavam à espera, mostram-nos disponibilidade para aceitar outro estagiário e, em alguns casos, após o estágio, decidem ficar com o jovem nos quadros da empresa e celebram um contrato de trabalho.

Quais as razões para empregar colaboradores com síndrome de Down ou com outra PDI? 

São geralmente trabalhadores muito dedicados, muito assíduos e pontuais, muito perfecionistas. Se uma tarefa for ensinada de uma determinada maneira, vão fazê-la exatamente da mesma forma, são muito minuciosos e até corrigem os colegas, no caso de, por exemplo,  o guardanapo não estar exatamente no local onde é suposto. Enquanto que muitos trabalhadores sem perturbações do desenvolvimento intelectual acabam por cansar-se de algumas tarefas mais rotineiras e desleixam-se em alguns passos, com estes trabalhadores não se corre esse risco. Estes colaboradores proporcionam ainda um ótimo ambiente no local de trabalho. Os colaboradores andam mais bem dispostos, faltam menos ao trabalho, tornam-se mais pontuais, sentem-se motivados ao ver o empenho destes jovens, e a taxa de insatisfação dos clientes diminui quando são atendidos por um jovem com uma Perturbação do Desenvolvimento Intelectual. Geralmente  os clientes mostram grande contentamento  e elogiam a empresa por terem alguém com PDI na sua equipa.

Que benefícios têm as empresas que recebem estagiários com Perturbações do Desenvolvimento Intelectual?

Os estágios dentro do projeto ValueAble não trazem qualquer encargo para o hotel/restaurante.  Se quiserem contratar uma pessoa com PDI, existem ajudas do estado, alguns medidas do IEFP que beneficiam as entidades que demonstram este interesse.


Benefícios para as empresas verificados através de experiências passadas em projetos realizados:

  • Selo Valueable – que é uma fonte de vantagem competitiva para empresas que desejam ser diferentes em termos de compromisso social;;
  • Apoio duradouro de agências de EFPs, que fornecem tutoria especializada;
  • Cumprir o sistema de cotas (onde se aplica);
  • Manter as competências e experiências valueable;
  • Reduzir as baixas médicas e custos associados;
  • Atmosfera de trabalho mais agradável, aumento da produtividade/compromisso e menos flutuação de trabalhadores.

Exemplo de apoios por parte do estado à contratação de pessoas com deficiência:

  • Medida Estágios Inserção – O estágio tem a duração de 12 meses. A bolsa de estágio varia consoante o nível de habilitações da pessoa e cabe à empresa pagar entre 5% a 20% da bolsa, mais o pagamento da Taxa Social única (TSU).
  • Medida Contrato-Emprego – Apoio financeiro para a celebração de contratos com mínimo de 12 meses. Estes consiste no pagamento de 9 vezes o valor do Indexante de Apoios Sociais.
  • Contrato Emprego Apoiado em Mercado Aberto – Apoio financeiro para as despesas com a remuneração e contribuições sociais para a segurança social. Varia consoante a capacidade de trabalho da própria pessoa, esta tem de estar entre os 0% e os 75%.
  • Desconto na Taxa Social Única – Caso a empresa faça um contrato de trabalho por tempo indeterminado, a entidade empregadora terá uma redução de 50% na taxa contributiva. Os candidatos têm de ter, pelo menos, 20% de incapacidade.
  • Adaptação de Posto de Trabalho e Eliminação de Barreiras Arquitetónicas – Apoios financeiros não reembolsáveis aos empregadores que necessitem de adaptar o seu equipamento e posto de trabalho. Este só são aplicados para contratos sem termo ou com duração de pelo menos 12 meses.
  • Isenção de Pagamento de Taxa Social Única para primeiro Emprego e Desempregados de Longa Duração – isenção para pessoas com ou sem deficiência
  • Marca Entidade Empregadora Inclusiva – Esta marca tem como objetivo promover o reconhecimento e distinção de práticas inclusivas pelas entidades empregadoras. Esta é atribuída de 2 em 2 anos.

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