A Minha Lisboa

A minha Lisboa

A minha crónica na Revista Turismo de Lisboa. 

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Postal de Lisboa, A minha Crónica

 

A minha Lisboa secreta

Assistir ao nascer do sol à beira Tejo faz-nos sentir uma espécie de navegadores em ponto pequeno, de partida para a conquista do mundo. É uma sensação poderosa/deliciosa começar a madrugada à beira rio, na zona ocidental de Lisboa, com a companhia do excelentíssimo Infante D. Henrique e pouco mais gente àquela hora. Até há bem pouco tempo, na minha recente era de atleta praticante, as minhas manhãs eram de corrida, às 6H30, nesta zona da cidade. Com partida na arquitetura manuelina dos Jerónimos e com esperança (só esperança porque ainda são uns 4km só de ida) na meta do MAAT. Mais uma boa surpresa: para bons apreciadores de varandas, a do MAAT, que ocupa toda a zona do telhado, é qualquer coisa de estupendo.

Também gosto de “explanar” no Museu de Arte Antiga. Costumo fazê-lo com um chá na York House. E com um livro no jardim do Palácio Galveias. Os livros têm essa capacidade extraordinária de nos proporcionarem novos pontos de encontro. Já gostava de Ler Devagar na LxFactory, uma livraria que me apresentou este espaço hippie chic e contemporâneo, com o mundo a acontecer. Agora tenho andado também para os lados do Príncipe Real, onde abriu a Travessa, em contramão com as notícias de encerramento de livrarias. Muito bonito este espaço carioca de curadoria literária, cujo proprietário brasileiro assume ter como romance favorito os Maias. Está explicado por que a nona Travessa é em Lisboa, a primeira fora do Brasil.

Bem perto, está um dos meus museus  de eleição. Gosto tanto do laboratório antigo do Museu de História Natural e da Ciência. Também sou assídua frequentadora da Gulbenkian – um programa enorme de música e arte num mesmo espaço, limitado, elegante e sem filas – é sempre bom! E aos fãs de ciência (ou de cultura, em geral), recomendo a visita e os objetos inesperados do Museu da Farmácia. O único preservativo do século XVIII está aqui, perto do Miradouro de Santa Catarina. É feito de pele de ovelha e, garante o colecionador que o possuía, pertenceu ao Marquês de Sade. (Aqui entre nós, não estou muito convencida…).

O bom desta Lisboa, menina e moça, é ser uma janela secreta para o mundo. É o que sinto sempre que me sento à mesa do JNcQUOI Asia. Tenho celebrado aqui algumas das datas mais especiais nos últimos tempos. É um sítio especial onde tenho juntado a família. E onde tenho a China, o Japão, a Tailândia e a Índia, sem sair de casa, de Lisboa, a minha cidade. Que é também a cidade e o berço de escritores universais como Pessoa: “O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo”. Eu tinha que citar Pessoa. Só para dizer que
a minha Lisboa secreta (ainda) é um privilégio.

 

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