Não foi por acaso que Norberto Morais foi o primeiro autor que entrevistei em Júlia – De Bem com a Vida.
Norberto Morais escreveu o melhor livro que li nos últimos tempos. E o melhor livro que li nos últimos tempos chama-se “O Pecado de Porto Negro” e acabou de conquistar a atenção da TV Globo. Vai ser adaptado à televisão por Patrícia Andrade, e a minissérie televisiva será realizada por André Felipe Binder.
“O Pecado de Porto Negro”, romance finalista do Prémio Leya, em 2013, foi publicado pela Casa das Letras, em maio de 2014. Dois anos depois, entrevistei o autor no primeiro mês de criação do site Júlia – De Bem com a Vida. (Veja aqui a entrevista no vídeo)
Norberto Morais conta-me que se apaixonou pela leitura com a avó, em Portugal, na pequena vila de Marinhais, para onde foi viver com seis anos, após o divórcio dos pais. O facto de ter nascido na mesma cidade de Herman Hesse, em Calw, Alemanha, é assim apenas uma curiosa coincidêndia. Porque o apetite pelas histórias nasceu das tardes preguiçosas que passava com a avó. “Ler para mim era a única forma de a minha avó manter o seu ritual de leitura, que se prolongava todos os dias, por três horas, após o almoço. A minha avó desejava que eu dormisse a sesta, mas eu não estava habituado. Na Alemanha, não dormíamos a sesta. E, então, a única solução era ler em voz alta”. Norberto Morais familiarizou-se desde cedo com o conceito de biblioteca, itinerante na altura, e dava-lhe prazer ir levantar obras como Anna Karénina ou Guerra e Paz para encher as tardes de leitura. Os livros acompanharam-no quando veio viver e estudar psicologia para Lisboa. Mas já antes tinha começado escrever. Na verdade, durante a pré-adolescência, todos os fins de semana começava uma nova história. E quando foi presentado com uma máquina de escrever, a vontade de inventar cenários ainda foi maior. A máquina de escrever vinha oferecer como que uma musicalidade aos seus caracteres.
Nunca pensou ser escritor. Talvez psicólogo, talvez músico, mas não escritor. E no entanto, aquilo que mais gostava na sua banda, onde era guitarrista e vocalista, era de escrever as letras das músicas. “O primeiro trabalho que escrevi com princípio, meio e fim, foi a letra para uma música”, recorda. No ano 2000, tinha 29 anos, terminou “Vícios de Amor” e, 14 anos depois, “O Pecado de Porto Negro”, romance finalista do Prémio Leya, fascinante pela criação de enredos que viciam o leitor até à última página. Porto Negro não existe, conta Norberto. E foi criado como tantos outros seus cenários ficcionísticos: “crio um imaginário a pensar num local onde gostaria de passar férias ou viver algum tempo. E como esse cenário não existe, posso estar à vontade…” e inventar personagens, de Cardamomo a Ducélia Trajero. Nenhuma figura de Porto Negro é real, mas o cenário recebe inspirações amiúde de Roque Santeiro ou Tieta, entre as novelas que mais marcaram a sua infância.