Qual é o segredo dos casais felizes?

Qual é o segredo dos casais felizes?

“Casais mais felizes são os que riem juntos”

Resposta de Sofia Arriaga, doutorada em psicologia clínica e com 20 anos de prática clínica: intervenção individual, familiar, de casal, do divórcio, psicodrama, terapias pela arte, counseling e life coaching.

 

Quem me dera que houvesse uma fórmula mágica para fazer os casais felizes. Ou quem me dera que fosse assim tão simples. Mas esta questão, quanto a mim, é mesmo uma faca de dois gumes. Quando começamos, enquanto terapeutas, a achar que os casos ou os clientes são todos iguais, ou que a fórmula de resolver os seus problemas é idêntica, deixamos de ser os terapeutas que poderíamos ser. Deixamos de ouvir as pessoas com curiosidade genuína, como se cada caso fosse, de facto, único. E quanto a mim, é isto que deve passar cá para fora: cada caso é único, com as suas particularidades, diferenças e idiossincrasias. E neste caso tenho de dizer que não há uma fórmula mágica.

Agora, há, de facto, algumas dicas que podem ser seguidas, que podem ajudar a que os casais não cheguem ao ponto de rutura, que é como muitas vezes chegam quando vêm pedir ajuda.

Começo por dizer que, muitas vezes, são mais saudáveis os casais que discutem do que os que não discutem. Calma, discutir não é gritar, não é ofender, nem magoar, não é fazer drama. Mas, de facto, há casais que não discutem porque têm um medo enorme da perda de controlo. Vivem sob o mito de que casais felizes não discutem, estão sempre de acordo, o que leva a uma espécie de autofagia. As discussões são engolidas, os descontentamentos são engolidos e isso pode gerar problemas psicossomáticos ou, quando estoirar, levar mesmo ao fim da relação. É preciso discutir sobre nós, sobre objetivos de vida, sobre planos, sobre prioridades e, inclusivamente sobre quem faz o quê em casa. Sem discutir instala-se um vazio que à primeira vista parece ser confortável, mas que corrói por dentro. Não discutir com medo da rutura, infelizmente leva muitas vezes a essa mesma rutura.

Por outro lado, quando discutimos estamos a dizer ao outro “Tu estás errado. Ouve o que tenho para te dizer, vais mudar de ideias”. Isto significa que ainda nos preocupamos com o outro, com o que ele pensa, sente e diz. O silêncio é uma das mais perturbadoras distorções da comunicação humana. É olhar para o outro e não o ver, é como se se passasse a mensagem “Já não quero saber o que pensas; já não significas nada para mim”.

Portanto, um casal mais feliz é o que fala, o que discute ideias, que comunica, que não fala só de conteúdos, mas da própria relação, que tem tempo para se ouvir, que arranja tempo para o “nós”.

Os casamentos dão luta, têm de ser alimentados e trabalhados. Já tive alunos meus, futuros psicólogos, que diziam que se dá trabalho é porque não é o tal. A esses peço desculpa de tirar toda a visão romantizada dos casamentos e das relações, mas qualquer relação importante na nossa vida dá trabalho. Nada que nos acontece é um dado adquirido e muitas vezes, só depois de algum tempo com determinada pessoa, a vemos tal como é.

Numa relação têm de haver cedências, equilíbrios, limites, empatia, tem de haver espaço para o nós, ou seja, para o casal enquanto entidade, mas também para cada um dos elementos do casal, porque têm personalidades distintas e porque devem ter uma vida para além do nós. Também há casais, por estranho que possa parecer, que estão juntos e nunca construíram o nós conjugal. Têm amigos diferentes, hobbies diferentes e não há nada que gostem de fazer juntos. Haver espaço para o eu, o tu e o nós é, a meu ver, um bom prognóstico para um final feliz.

E tanto haveria para dizer! Eu aconselho sempre a qualquer casal que se riam um com o outro. Casais mais felizes são os que riem juntos. Façam surpresas, arranjem tempo e relativizem as discussões – pensem sempre que num casamento, se um perde, ambos perdem.

Experimentem a fazer um círculo, uma espécie de pizza com várias fatias. O tamanho da fatia é o tempo “gasto” naquela relação: trabalho, filhos, amigos, comunidade, cônjuge. Qual é a fatia mais pequena de todas? Muitas vezes ficamos surpreendidos quando percebemos que é com a nossa cara metade  que passamos menos tempo, do dia, da semana, do mês. E pior ainda, muito desse tempo serve para falar das questões do dia a dia, do dinheiro, dos filhos…e não sobre si, enquanto casal. No tempo de namoro havia bilhetes e mensagens e surpresas…para onde é que isso foi?

Aproveitem as férias para colocarem em prática algumas destas sugestões. Quem sabe se este passar mais tempo juntos não poderá ter agora outro sabor? Quer ter sempre razão ou ser feliz? É a pergunta que lhe deixo em jeito de despedida.

 

Foto: Imagem de Karen Warfel por Pixabay

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