Júlia, O regresso

Sobre o meu regresso

Habituei-me a um conceito que tem tudo de provisório e nada de garantido. Mas a verdade é que me habituei à (aparente) saúde de ferro. Habituei-me a não parar. A ignorar os pequenos sinais do corpo que nos vão dando pistas. Até que um dos sinais, farto de ser ignorado, gritou mais alto. E fez-se ouvir. A tal ponto que deixei de fazer este programa que é atualmente o meu principal dever profissional e um enorme prazer. É esquisito. Quando chegamos a uma certa idade, é esquisito e desconfortável a interrupção brusca de rotinas. As rotinas dão-nos tranquilidade. Chegar aqui todos os dias, brincar com a equipa, partilharmos as nossas coisas boas e más… tinha saudades. Tinha muitas saudades. E quando regressei, o abraço que recebi foi… tão saboroso.

Estive internada por duas vezes. A primeira vez, para uma cirurgia à vesícula. Após a vesícula extraída, pensei que tudo correria bem e que o incómodo desapareceria. Mas a dor voltou. E era uma dor terrível. Era excruciante. Fiquei de facto muito preocupada. Sem diagnóstico, sem respostas, equacionei o pior. Mudei de hospital – e nestas questões, não há que ter receio de pedir uma segunda opinião. Uma segunda opinião não invalida o que de bom acontece com a primeira equipa. Conclusão: sofro de dor neuropática. É um problema crónico com o qual tenho de aprender a viver. Julgava tratar-se de algo muscular. Não é. É uma dor crónica que pode aparecer na ausência de analgésicos. E aqui estou eu, com analgésicos. E com uma bateria enorme de exames feitos. Alguns deles mais invasivos que outros e que, por isso, obrigaram a anestesia geral. A equipa clínica foi estupenda. Mesmo quando me negavam os pedidos gastronómicos: leitão, perguntava eu. Nem pensar, ouvia de troca.

Leitão, cozido à portuguesa, chouriça, morcela de arroz. São nomes a ocultar nos próximos tempos.

Não é relevante. O que importa é que estou funcional, estou aqui. Com um diagnóstico. Retomo o programa Júlia, que ficou tão bem entregue à excelente e dedicada profissional Andreia. Retomo as rotinas, a equipa, volto a casa  para jantar. Estou de regresso.

 

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