O que nasce torto…

Também se endireita. Garante João Moleira, jornalista da SIC e autor deste surpreendente livro com mais de 125 histórias de invenções acidentais, felizes acasos e falhanços que… afinal venceram. Seguem dois exemplos. Donuts e Bolachas com pedaços de chocolate.    

Donuts: Por muito que possa pensar o contrário, quem inventou os famosos donuts não foi Homer Simpson. Primeiro que tudo, interessa dizer que nem em todo o lado os conhecem como cá. Redondos sim, mas diz-se que não começaram por ter o buraco no meio. Aliás, há muitos locais do mundo onde ainda são apreciados dessa forma e com recheio no interior… uma espécie daquilo a que nós chamamos de bola de Berlim. Foi assim que terão chegado aos Estados Unidos pela mãos dos holandeses. Então e o buraco como é que foi lá parar?

A história não é consensual, mas o donuts, tal como o conhecemos, pode ter sido criado por Hanson Gregory… por casualidade, ou capricho. Estávamos em 1847 e o jovem Hanson fazia uma viagem de barco. Consigo tinha um desses bolos, como a nossa bola de Berlim. Com o que eu gosto de bolas de Berlim e de massa mal cozida, cá está outra criação que jamais teria sido eu a fazer. Pois, ao contrário de mim, Hanson achou o centro do bolo cru, olhou para um frasco de pimenta e, se bem pensou melhor o fez. Com esse utensílio que tinha mais à mão decidiu fazer-lhe um buraco!

A coisa soube-lhe tão bem que ensinou a técnica à mãe. Mal sabia que estava a criar um dos doces mais famosos do mundo. Apesar disso, só mais tarde, no pós-segunda guerra mundial os donuts ganhariam fama universal com a primeira grande cadeia de lojas do género. Abençoada…

Bolachas com pedaços de chocolate: Hoje são as bolachas mais vendidas em todo o mundo, mas nasceram por “acidente” na cozinha de uma pousada norte americana. Ruth Grave Wakefield era a dona e cozinheira de serviço e não queria inventar nada. A receita naquele dia de 1938 era bolachas de chocolate, por inteiro, sem pepitas (até porque até esse dia nunca ninguém havia pensado nisso). Apenas bolachas, castanhinhas, acabadas de sair do forno com cheiro e sabor a cacau… em pó, claro está.

Aconteceu-lhe, no entanto, o mesmo a que tantos de nós, tantas vezes. Faltava qualquer coisa. Com quem é que isso ainda não se passou? E não improvisou? Pois, ela fez o mesmo. Não havendo chocolate em pó, tratou de partir uma barra de chocolate em pedaços, na esperança que derretessem e que, depois, não se notassem nas bolachas. De facto, derreteu, mas as pepitas mantiveram-se isoladas e não se misturaram. Esta é uma versão da história. Mas há outra, embora esta me custe uma bocadinho mais a acreditar. Um funcionário da mesma pousada diz que a vibração da batedeira fez com que uma barra de chocolate, que estava numa prateleira, caísse dentro da massa e se tivesse partido em pedaços. A senhora Wakerfield terá pensado deitar fora o preparado e, alegadamente (termo mais utilizado pelos jornalistas em qualquer circunstâncias para acautelar falta de provas), foi esse homem que a convenceu a não o fazer. Se assim foi, a humanidade agradece-lhe.

 

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