Anúncios de emprego ou de arrendamento?

Anúncios de trabalho: Vale tudo?

“Eu candidatei-me a um emprego. Não quero arrendar o espaço”

Um aviso da plataforma Ganhem Vergonha: certos anúncios de emprego são apenas formas de obter contactos ou de divulgar produtos, quer presencialmente, quer por email.

“Recorde-se o caso de um portal de emprego criado por uma empresa de marketing que divulgava ofertas de emprego alegadamente falsas. Os anúncios eram atrativos, mas pouco transparentes, e os candidatos nunca obtinham respostas das empresas. Mas passavam a receber propostas de venda de produtos, como seguros de saúde.”

Lara, ilustradora, conta-nos que respondeu a um anúncio de emprego que procurava alguém da sua área.

“Responderam-me para a marcação de uma entrevista presencial. Dirigi-me ao local, esperei pela minha vez e vi de relance a candidata que me tinha antecedido a sair. Parecia estar aborrecida.”

Ao ser chamada para a entrevista, e mostrando o portfólio, “notei que o entrevistador não estava interessado ao folhear. Depois de me fazer rapidamente as perguntas do costume, convidou-me a fazer uma visita guiada ao espaço de trabalho”.

Foi aí que tudo mudou.

“Ele estava a mostrar-me o local, a explicar como e onde poderia trabalhar, o uso que podia fazer desta sala ou da outra. Dando até o exemplo específico da possibilidade de eu poder vir a dar workshops no local. Chegou até a dar-me tabelas de preços. Afinal não era uma entrevista de trabalho para mim. Eles queriam que eu fosse cliente deles.”

Lara sentiu que perdera tempo. “Saí do local com a mesma expressão que tinha visto na outra rapariga. Fui enganada. O anúncio foi colocado na secção dirigida a pessoas que procuravam trabalho. Tiraram partido de ilustradores, designers e artistas, num país onde a oferta de trabalho é escassa e o retorno financeiro é miserável, para autopromoverem o seu serviço. Não tornei a cometer o mesmo erro.”

 

O que diz a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) sobre a publicação de anúncios?

De acordo com a ACT, entidade que controla a divulgação das ofertas de emprego por agências privadas, “o conteúdo dos anúncios e outras formas de publicitação de ofertas de emprego devem respeitar o princípio da veracidade e não deformar os elementos que caracterizam a relação laboral oferecida”.

Estas agências devem “prestar informação escrita sobre os aspetos relevantes da colocação e da relação laboral oferecida, e assegurar-se de que a entidade contratante é idónea”. No entanto, o candidato a emprego deve sempre “verificar a constituição legal da empresa e eventuais licenciamentos; e obter informação sobre a empresa junto do serviço público de emprego”.

Porém, em ofertas online, a ACT ainda não tem muita intervenção, lembra a Ganhem Vergonha. “Tanto se pode oferecer trabalho em sites de empego, como nas redes sociais ou em portais de usados. E essa desregulação abre a porta a anúncios falsos, utilizados para obter dados segmentados, para roubar ideias ou para sondar o mercado, por exemplo.”

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