O que vamos comer em… 2030?

Insetos, carne feita em laboratório, legumes cultivados sem solo e alimentos nutritivos feitos em impressoras 3D. Estas são algumas das tendências da nutrição que chegarão à nossa mesa por volta de 2030. Bom apetite!

Tendências de nutrição para 2030!

Falta muito, muito pouco para 2017 chegar ao fim. E como manda a tradição, com o final do ano, chegam as previsões sobre o que será tendência nos 365 dias seguintes. Mas vou mais além. Quero saber quais as perspetivas da nutrição para a década seguinte.

Se há uns anos a entrega ao domicílio era uma das tendências mais inovadoras na indústria alimentar, agora o panorama é bem diferente. Aplicações que nos ajudam a gerir a alimentação, a rastrear refeições entregues ao domicílio ou a fazer reservas online para jantar já fazem parte da nossa vida quotidiana. Não há como negar, a tecnologia tem vindo a infiltrar-se no mundo da comida.

No entanto, o futuro da alimentação parece um filme de ficção científica quando comparado com o presente. Daqui a uns anos teremos drones a fazer entregas ao domicílio, comida produzida em impressoras 3D, hortas verticais, nutrição personalizada e claro, os insectos, que já fazem parte da ementa de alguns chefs, também não vão faltar.

Uma coisa é certa: a tecnologia vai mudar a forma como comemos (a verdade é que já o está a fazer), mas também o que comemos. Para Marius Robles, CEO da Reimagine Food, um dos centros que trabalham no campo da inovação alimentar, desenvolvendo soluções tecnológicas para a indústria, a próxima revolução tecnológica não chegará através de uma app ou de qualquer outro software, mas sim através do nosso prato. Também Soh Kim, diretora do Food Design Research da Universidade de Stanford, nos E.U.A, inclina a balança para a inovação em ingredientes.

Vamos lá então descobrir como será a alimentação em 2030.

 

Cultivar alimentos… sem solo!

Há quem diga que já chegámos ao ponto de partida. O planeta não aguenta mais ataques aos seus recursos naturais e a capacidade de a humanidade se alimentar no futuro está em risco, alertou Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Em 2050, a população “deve crescer para quase 10 mil milhões (7,4 mil milhões atualmente), aumentando a procura agrícola – num cenário de crescimento económico moderado – em cerca de 50% em relação a 2013”, com a consequente pressão sobre os recursos naturais.

 

Ainda assim vivemos uma época de paradoxo. Há 900 milhões de pessoas que passam fome em todo o mundo e 1,9 biliões sofrem de excesso de peso. Nunca houve tanta abundância de comida, mas também nunca houve tanta fome no mundo. Por essa razão, Paula Ravasco e Pedro Miguel Neves, nutricionistas, deixam um aviso: “caso as estatísticas atuais se mantenham, um dos maiores problemas será a malnutrição em ambos os extremos, com uma parte da população mundial obesa e outra com desnutrição, sendo que as dietas tendem a ser cada vez menos saudáveis com o passar das décadas e mais desviadas da ingestão recomendada”.

Com as constantes transformações no mundo, torna-se necessário aumentar a produção, mas também combater as limitações socioeconómicas que afetam a população mundial – migrações, alterações climáticas e escassez de recursos – através de novos conceitos, novos métodos de cultivo e da exploração de novas tecnologias que promovem a sustentabilidade alimentar.

Na próxima década podemos verificar o cultivo de alimentos sem terra (hidroponia) ou com auxílio de GPS e chuva criada artificialmente. Já imaginou? Desta forma, como declarou Nicholas Negroponte, guru e fundador do MIT Media Lab – uma unidade do Massachussets Institute of Technology, chegaremos a um ponto em que “a produção de alimentos não dependerá mais do clima. Quando se cultiva alimentos num laboratório, não estamos expostos às incertezas do clima”.

Para além disso, por não estarem em contacto com o solo, as plantas cultivadas não estão sujeitas à ação de bactérias, nem absorvem elementos imprevistos. Ou seja, são mais seguras. A agricultura vertical, embora já seja uma realidade, também estará cada vez mais presente no futuro.

Em busca do que é saudável

Ter uma nutrição saudável é a principal corrente que está já a alterar os hábitos de muitos consumidores. As pessoas estão cada vez mais informadas e interessadas em transformar a sua dieta, apostando mais em produtos frescos e saudáveis. Conceitos como alimentos orgânicos, sustentabilidade, consciência ecológica, proteínas alternativas, superalimentos e snacks saudáveis estão a ganhar cada vez mais força. Ao mesmo tempo, a tecnologia permite aos utilizadores tomar decisões relacionadas com os alimentos de forma mais consciente, precisa e personalizada, como nunca antes aconteceu.

 

Nos próximos anos vamos questionar cada vez mais aquilo que comemos. A comida vai ganhar força como meio de prevenção e cada pessoa vai comer o que a deixa mais saudável de acordo com as suas características genéticas e histórico de doenças. E isso inclui bebidas antioxidantes, refrigerantes probióticos (com bactérias que ajudam a digestão e o sistema imunitário), lanches adequados para diabéticos ou alimentos funcionais (com benefícios diretos para a saúde), entre muitas outras possibilidades.

Carne feita em laboratório

E se lhe dissermos que daqui a uns tempos poderá comer carne que não é de origem animal? É melhor habituar-se à ideia..

Atualmente, são produzidos 263 milhões de toneladas de carne por ano no mundo, sendo 20% desta quantidade perdida ou desperdiçada. O seu consumo não é mais sustentável e as marcas têm agora a oportunidade de substituir alimentos de origem animal por vegetal sem comprometer o seu sabor ou textura. “Tratam-se de produtos feitos a partir de vegetais que procuram o sabor do da carne e pescado convencional”, revelou ao El Mundo Soh Kim.

 

Na verdade, esta é uma tendência que não está assim tão longe da realidade. Startups como a Modern Meadow já usam técnicas de produção que lhes permitiram criar o primeiro hambúrguer in vitro. Também a empresa Hampton Creek conseguiu recriar o sabor de um ovo usando proteína vegetal e a Beyond Meat criou substitutos de frango e vitela com proteínas vegetais. Estes são uma pequena amostra de novos alimentos que substituem ingredientes de origem animal por outros de origem vegetal, sem que o seu sabor ou textura sejam praticamente afetados.

 

De acordo com os cientistas, a carne produzida em laboratório permite reduzir significativamente o efeito de estufa, bem como o desperdício de energia e de água na sua produção. Outra das suas vantagens passa por “poder produzir-se carne mais magra e/ou com mais nutrientes, podendo ser uma alternativa mais saudável à carne convencional”, indicam Paula Ravasco e Pedro Miguel Neves. No entanto, como alertam os nutricionistas, esta possibilidade “ainda apresenta muitas desvantagens, como o facto de ter menos palatibilidade e de não se conseguir produzir ainda em grandes quantidades”.

 

Nham, nham… Grilos, gafanhotos e vermes!

 

Sustentabilidade proteica vai ser a palavra de ordem na próxima década e, por isso, as Nações Unidas, a FAO, a União Europeia e vários profissionais ligados à nutrição e indústria alimentar são unânimes: os insetos são a carne do futuro.

Calma, não faça já aquela cara de “Blhaaccc”! Daqui a uns tempos grilos ou gafanhotos serão triturados e usados como ingredientes em farinhas ou alimentos como hambúrgueres, e farão parte da nossa mesa tal como o seu prato preferido hoje faz.

Na verdade, o consumo de insetos já é popular entre vários povos – cerca de 2 mil milhões de pessoas em todo o mundo comem insetos –, mas os europeus e norte-americanos reagem, muitas vezes, com expressões de desagrado e repulsa. É um pouco como aconteceu com o shushi. Há 20 anos a maioria dos europeus não pensava comer peixe cru e hoje esta é uma das iguarias da moda.

 

Há já chefs de renome que os usam para dar criatividade à comida, mas comer grilos, gafanhotos, vermes e outros insetos poderá ser uma das formas de obtermos a quantidade de proteínas necessária para uma alimentação saudável, assim como de cálcio, ferro, magnésio e potássio. “Existem cerca de 1400 espécies de insectos comestíveis. Além de ricos em proteínas, os custos de produção de insetos são muito menores que os custos de criar animais”, explicam Paula Ravasco e Pedro Miguel Neves.

Esta é, assim, uma tendência que pode ajudar a combater a fome de milhões de pessoas, emitindo, ao mesmo tempo, uma quantidade consideravelmente menor de gases de estufa do que a produção atual de gado bovino, por exemplo.

Substitutos dos alimentos

A comida como a conhecemos hoje vai ser “substituída”. Este é um conceito polémico que suscita controvérsias na indústria. Alguns consideram-no o futuro da comida, e outros vêem-no como a antítese do que deve ser um alimento.

O exemplo máximo desta tendência é o Soylent, considerado atualmente o batido mais trendy em Silicon Valley, nos E.U.A. O seu impulsionador é o engenheiro americano Rob Rhinehart, que para otimizar o seu tempo ao máximo e reduzir as despesas com a alimentação, criou este composto de produtos químicos em pó e água, que assegura o aporte de todos os nutrientes necessários para o organismo. Parece mesmo que o futuro pode passar por aqui.

Alimentos inteligentes

A tecnologia será um aliado para saber exatamente o que comemos. Diversas empresas já entraram no campo da inovação alimentar, seduzidas pelo potencial económico e criativo de uma indústria ainda a ser explorada. A Google, por exemplo, já patenteou um sistema que permite indicar a quantidade de calorias que existem num determinado prato somente através de uma fotografia. E outras, como a SCIO ou a TellSpec, trabalham no desenvolvimento de espectrómetros de bolso, uma espécie de scanner portátil de alimentos capaz de detetar componentes como metais, pesticidas ou calorias.

Mas uma das grandes inovações vai ser a aplicação da nanotecnologia ao bem-estar do organismo. Vamos consumir alimentos que nos irão dar informações em tempo real sobre o caminho que um produto percorreu desde a sua colheita até à mesa, mas também sobre a forma como se comportam no nosso corpo e os efeitos que terão para a saúde ao longo do tempo.

Vamos ter um caminho longo e inovador pela frente… à mesa!

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