Júlia no país dos livros

Histórias: é o tema da edição de março de Júlia – De Bem com a Vida. E por isso estou tão bem acompanhada. Livros, porque são meus amigos de infância. Nuno Markl, porque… é dos melhores contadores de histórias que conheço. 

Eu tinha uns 10 anos quando recebi uma reprimenda do pediatra e da minha mãe. Estava proibida de ler. Eu lia compulsivamente. Lia a toda hora. Era o meu gosto mais viciante. E por isso acabava por ser frequentemente apanhada à noite, no quarto, a devorar um livro, à luz do candeeiro. Sempre gostei de livros. Mas nem todos. Na verdade, tinha dois ódios: um à Abelha Maia e outro à Heidi. Nunca percebi o encanto daquelas histórias. Mas gostava da Anita e perdia-me com os clássicos.

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Tinha 10 anos quando fui proibida de ler pelo meu pediatra e pela minha mãe. Lia compulsivamente…

Poderiam ter sido estas as escolhas para ler aos meus filhos. Mas não. Com eles, desenvolvi a arte do improviso. Sentava-me com eles na cama, ao deitar, pegava no peluche mais à mão e, de repente, dava-lhe uma vida própria, uma história com princípio mas não necessariamente com fim. Um dos peluches chegou a ser um “funcionário das finanças” que estava muito triste porque não cabia na repartição. Mas também lhes lia muitos livros: digamos que os meus filhos têm uma relação íntima com os habitantes da Rua Sésamo.

Resultado: depois de tantos contos, a páginas tantas (aqui, a expressão vem mesmo a calhar!), o meu filho Rui adquiriu um vício absurdo pelo Harry Potter. Tão absurdo que se inscreveu numa escola online de feitiçaria. Escola essa que passou a alterar os nossos horários de jantar: “Mãe, não podemos jantar às 19h00, porque a essa hora começa a aula de vassoura com feitiço.” Fabuloso!

Os livros têm-me acompanhado ao longo de toda a vida.

Nos momentos mais e menos propositados. Um dia, o meu marido (fervoroso sportinguista) levou-me a ver um jogo ao Estádio. E eu… levei um livro. Escusado será dizer que, nem eu nem o livro, fomos muito bem recebidos…

Um livro é das melhores viagens que podemos fazer. E quando passamos da leitura para a escrita, o percurso aumenta ainda mais de intensidade. Primeiro, nasceu “Não sei nada sobre o amor”, em 2009, e depois, veio o romance “Um castigo exemplar”: dois “filhos” de quem gosto muito em especial e que concretizaram a minha necessidade de escrita sobre ficção/romance.

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Não sei nada sobre o amor, o meu primeiro livro (2009)

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Um castigo exemplar, o meu segundo livro. Um romance

E depois, claro, há as histórias reais, do quotidiano.

E há ainda as que, sendo reais, têm todos os ingredientes de surreais e hilariantes. Quando me perguntam pelas mais mirabolantes, tenho alguma dificuldade em escolher. Pela abundância. Mas fica aqui uma de que me recordo, só para vos abrir o apetite:

Há uns anos, durante um programa de televisão na TVI, recebi uma senhora que tinha perdido três maridos. O primeiro morreu de acidente de carro; o segundo, de ataque cardíaco, durante a atividade sexual com a amante; e o terceiro, com um tiro, da pistola do cunhado desta senhora, para a defender de um homem que alegadamente era mau.

E lá estava ela para contar, vivinha da silva. No meio de tanta desgraça, veio-me à cabeça o lema dos Monty Python: Always Look on the Bright Side of Life (Aconteça o que acontecer, vamos sempre olhar para o lado positivo da vida – em tradução livre).

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