“Ficção sem “gancho” é sexo sem orgasmo. Não dá prazer.”, Rui Vilhena

Rui Vilhena é autor de grandes histórias que entram pela nossa casa adentro.

Argumentista de novelas, nasceu em Moçambique, estudou nos Estados Unidos e já escreveu ficção para a Globo, no Brasil. Em Portugal, deixa-nos em suspense. Diz-nos que a sua próxima novela terá uma história de amor completamente  diferente. Aguardamos!

Como é que se começa uma novela – pela ideia de uma história? E como lhe surge a história? Pode dar-nos um exemplo de como lhe surgiu uma história concreta para uma novela?

A trama de uma novela tem que ser acima de tudo, elástica. Temos que perceber quantos capítulos é capaz de suportar. Há uma grande diferença entre uma boa ideia para uma série e uma boa ideia para uma novela. O enredo de uma novela tem mais reviravoltas. É preciso surpreender o público constantemente. Em Boogie Oogie (novela da Globo), por exemplo, duas meninas são trocadas na maternidade e, anos mais tarde, reencontram-se. A história avança e quando chega o momento de fazer o teste de paternidade, uma das mães recusa-se a colaborar, pois julga que o marido não é o pai. Surge um novo elemento inesperado que altera o rumo da trama.

Escrita – em pc ou também à mão? Tira apontamentos, usa bloco de notas?

Escrever uma novela mão, acho que nem Fred Flintstone. Seria uma loucura. Já o bloco com apontamentos tenho um no carro, na mesa de cabeceira, ao lado do sofá… basicamente está em todo o lado. A cabeça não para. Estou 24 h do dia a pensar naquela história. A minha mulher chega e estar a falar comigo e pergunta-me “Você ouviu o que eu disse?”… e confesso que não. Acabo por estar sempre a pensar na história.

Quais os segredos de sucesso de uma novela? 

É muito importante para mim que uma novela não seja igual à anterior. O público gosta de ser surpreendido. Tento sempre dar um tom, uma linha diferente da anterior.  Ninguém quer ver mais do mesmo. A minha fórmula é simples. Uma novela é tão boa quanto o seu vilão … quantas e quantas vezes as pessoas não se lembram do nome da novela, dos atores, mas sabem que era “aquela da Odete Roitman, da Nazaré, da Carminha”… A referência é o nome do  vilão. Um bom mistério é sempre necessário. E, é claro… a história de amor que todos querem viver, mas está cada dia mais difícil de encontrar.

Entre a ficção no Brasil e a ficção em Portugal, quais as grandes diferenças, tendo em conta que conhece e já trabalhou nos dois “mundos”?

Há uma grande diferença e a qual tem sido uma batalha minha. No Brasil o “gancho” do episódio é respeitado. Dramaturgicamente, quando se escreve um episódio, a história vai evoluindo, criando-se um suspense que culmina com o gancho final. A finalidade do gancho é deixar o público ansioso à espera do próximo episódio. Aqui em Portugal, quando o “gancho” não é respeitado, acaba por criar-se um efeito dominó, onde quase sempre o final do episódio não tem impacto. Perde a novela, perde o público, perde o canal. Ficção sem gancho é sexo sem orgasmo. Não dá prazer.

Quando estava no Brasil, referiu ter saudades de Portugal. Sentiu saudades de quê, especificamente?

Da minha família, do meu cão, da gata, dos meus amigos, do nosso vinho que é o melhor do mundo, da gastronomia… uma lista infinita de coisas…

Até hoje, qual a personagem que idealizou mais elogiada pelo público. Porquê?

Eu creio que foi a Luísa Albuquerque. Como já disse, o vilão acaba sempre por tornar-se a personagem mais inesquecível. A Luísa era uma vilã atrapalhada, com um lado humano bastante forte… Não era maniqueísta. Já para não dizer que foi maravilhosamente interpretada pela Alexandra (Lencastre).

O que é que nos pode contar mais sobre a sua próxima novela, além do facto de ter como protagonista a Dalila Carmo?

O projecto ainda está numa fase inicial. Não há elenco… Mas será algo de novo. Uma boa história e divertimento garantido.

Quando não está a escrever, o que faz? 😊

Gosto de viajar… Todos os anos, visito, pelo menos, dois lugares aos quais nunca fui antes. Conhecer o mundo é abolir fronteiras, quebrar paradigmas, expandir o nosso conhecimento…

Que fatores têm mudado a novela? A integração de mais jovens no elenco, a integração de brasileiros?

Actualmente o intercâmbio de brasileiros, portugueses, angolanos nas produções em Portugal, é muito positivo. A troca de experiências e de conhecimento é sempre uma mais valia.

O amor (e a propósito do Dia dos Namorados que se comemora hoje, dia 14 fevereiro) continua a ser o tema chave da novela? Qual a relação de amor mais marcante que escreveu até hoje?

Todas as novelas têm uma grande história de amor… Faz parte do folhetim. Há fatores que ajudam para que elas sejam um sucesso. Fugir do óbvio, surpreender o público, química entre os atores… A minha próxima novela terá uma história de amor completamente  diferente. Aguardem!

 


O último livro que li
….Eu confesso que ultimamente tenho substituído o livro pelo telemóvel, mas estou a tentar corrigir! O último livro que li foi Ironias do Tempo do Luís Fernando Veríssimo.

A minha próxima viagem… a  Reykjavik (Capital da Islândia).

O que tenho saudades dos Estados Unidos e do que não tenho saudades nenhumas… tenho saudades da rapidez com que as decisões são tomadas. Time is Money.  Não tenho saudades da vida casa-trabalho.

Do Brasil sinto falta de… da água de coco em frente ao mar. De preferência ao pôr do sol.

Estar de bem com a vida… É
saber saboreá-la. Estar em harmonia com as pessoas, a natureza… E principalmente deixar um mundo melhor para os que ficam.

 

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