E a melhor enfermeira (de cuidados continuados) no Reino Unido é… portuguesa!

“Fico triste, por saber que os meus colegas não são reconhecidos em Portugal pelo trabalho que fazem no dia-a-dia”, diz-me Sílvia Nunes

Sílvia Nunes, 33 anos, natural de Vila do Conde, foi galardoada com o prémio britânico Great British Care Awards, na categoria de melhor enfermeira pela inovação, criatividade e atenção no trabalho.

A distinção foi atribuída na passada sexta-feira e contou com mais de mil profissionais de enfermagem e de cuidados de saúde que tinham sido vencedores nas suas respetivas regiões.

A enfermeira Sílvia desempenha desde setembro de 2016 o cargo de diretora adjunta do Ford Place, um lar especializado em cuidados paliativos.

“A Sílvia representa o melhor da enfermagem num ambiente de lar. Ela é inovadora, criativa, apaixonada e faz tudo pelos residentes, famílias e pela sua equipa. Ela dá às pessoas o valor e a dignidade que elas merecem. Ela esforça-se para promover a enfermagem de alta qualidade dentro da sua equipa e é um excelente exemplo”, declarou a organização Care England.

“A Sílvia trabalha de uma forma que, quando está connosco, faz-nos sentir a pessoa mais importante da sua vida. Nunca age como se estivesse apressada, mesmo apesar de viver a uma hora de distância de casa. Eu sinto que posso conversar abertamente com a Sílvia sobre a minha condição de saúde – ela entende como eu me sinto”
IC, residente na Casa de Repouso Ford Place

 

“Ela equilibra a enfermagem com os seu deveres de vice-gerente. Ela é solidária, proativa, e com um sorriso que pode iluminar um quarto”
A. Charlesworth, gerente do Lar

Prémio Great British Care Awards: pode contar-nos melhor que prémio é este que acabou de receber?

Este prémio reconhece o importante papel que os enfermeiros (que atuam no setor de cuidados) têm na promoção da saúde emocional, física, psicológica e social das pessoas que cuidamos e na forma como são capazes de demonstrar como as habilidades de enfermagem se integram.

Mas não é a primeira distinção que recebe no Reino Unido… 

Fui nomeada para duas competições distintas. Uma foi o National Care Awards, onde não existe fase eliminatória e dos milhares de candidatos, são selecionados os cinco melhores para a final. Infelizmente não ganhei, mas fiquei muito lisonjeada por ter chegado ao Top 5 pelo segundo ano consecutivo.
A outra competição, os Great British Care Awards, começa por uma fase regional e os vencedores regionais vão a uma final nacional. Como ganhei a fase regional, fui à final e ganhei!

Quando decidiu partir para o Reino Unido? E arranjou emprego como enfermeira de imediato?

Em Portugal, comecei por trabalhar nos Bombeiros de Vila do Conde. Entrei depois na faculdade, a Escola Superior de Saúde Vale do Ave, em Famalicão, e quando terminei o curso, em 2013, trabalhei em part-time nos Elos de Ternura em Vila do Conde, onde prestava apoio domiciliário. Um ano após a conclusão da minha licenciatura, decidi vir para o Reino Unido. Comecei por trabalhar como empregada de limpeza e depois consegui emprego num lar. Comecei como auxiliar. Em Junho 2015 iniciei funções como enfermeira, em janeiro 2016 passei a directora clínica e, em setembro 2016, candidatei-me a uma posição de vice-gerente, a qual desempenho atualmente.

Foi uma adaptação difícil?

Deixei Portugal em Agosto de 2014. Fiz a viagem de carro com a minha cunhada. Foi uma experiência inicial para perceber se me iria adaptar e se conseguiria arranjar trabalho. Assim que cheguei a Inglaterra, comecei a tratar da documentação necessária e a procurar um emprego. Entre setembro e dezembro, ainda regressei a Portugal duas vezes, para tratar da mudança e também para trazer as minhas gatinhas. Em dezembro, o meu namorado, atualmente marido chegou a Inglaterra. Foi uma adaptação difícil, estava fora da minha zona de conforto, mas ao mesmo tempo tive todo o apoio da família do meu marido.

Atualmente, em Portugal, os enfermeiros estão em protesto. Tem acompanhado? 

Tenho seguido pela comunicação social a greve que os colegas fizeram, e a constante luta para serem ouvidos. Fico triste, por saber que não são reconhecidos pelo trabalho que fazem no dia-a-dia. Espero que a luta tenha um final de sucesso para todos os colegas.

De que mais sente falta de Portugal?

Sinto falta da minha família e amigos. Sinto falta do mar e dos passeios à beira da praia. Do tempo maravilhoso e da gastronomia.

Gostaria de regressar a Portugal?

Gostaria muito de regressar a Portugal um dia… Mas não sei quando isso acontecerá…

Comentários

comentários