Em Beja. Enamorada.

Quando recebi o convite para participar no Festival B, a segunda edição de um Festival que decorre no centro histórico de Beja e que ganhou recentemente o título de “Melhor Evento” do ano (2018), fiz as contas e quase me resignei à impossibilidade do calendário: dia 29 Junho, à noite, no Porto, com Monólogos da Vagina, e dia 30 em Beja? Só por um motivo de força maior. E o Jorge Serafim, bejense, exímio narrador de histórias, tinha o motivo: Mariana Alcoforado. As Cartas Portuguesas, que supostamente esta freira de Beja escreveu há 350 anos, ao cavaleiro francês Nöel Bouton, e que apaixonaram músicos, cineastas, poetas e filósofos pelo mundo, é o tema que me convenceu a estar aqui hoje, no palco Beja Enamorada.

Resumindo: o que mais me apaixona em Mariana Alcoforado? Tudo. Desde o dia em que nasce, em 1640, já com o destino planeado. Segunda filha de “boas famílias” e com descendência de Vasco da Gama, Mariana foi internada num convento com um dote. Como era costume na época em que o primeiro filho herdava os haveres dos pais. Curioso: ao longo de todo o seu percurso, a vida geográfica de Mariana circunscreve-se a pouco mais que 100 passos (entre as curtas distâncias que vão da sua casa ao Convento de Nossa Senhora da Conceição, para onde entrou aos 11 anos até à sua morte, com 83).

Mas Mariana tem viajado pelo mundo inteiro, através de cinco cartas, publicadas pela primeira vez em francês (pelo escritor Lavergne de Guilleraggues) e, posteriormente, traduzidas para inglês, italiano, dinamarquês e por aí fora…

Continuamos a discutir a verdadeira autoria dos textos. Continuamos a questionar a autenticidade daquele amor proibido e não correspondido, separado por uma janela gradeada do Convento (hoje Museu), e através da qual a vigária e escrivã (cargos que ocupou), se enamorou do cavaleiro francês Noel Bouton, marquês de Chamilly, que lutava em Portugal, na Guerra da Restauração.

Após alguma pesquisa e conversa, há de surgir a pergunta: Se eu acredito que Soror Mariana Alcoforado terá escrito estas Cartas de Amor. Seja sim ou não, confesso estar enamorada desta estória, um amor que o poeta Reiner Maria Rilke descreveu como “grande de mais para um só ser”. Obrigada Beja.

Comentários

comentários