Donal Ray Pollock

“Trump, um ignorante com vocabulário de uma criança de oito anos, ganhou poder ao estimular o medo”, Donald Ray Pollock

“Uma vez, conheci um homem que foi condenado à prisão por um ano, por roubar um pacote de queijo, mas alguém como Trump, um ditador mentalmente instável, é aparentemente intocável”, Donald Ray Pollock

Trinta e dois anos da sua vida profissional, Donald Ray Pollock (65 anos) passou-os como operário de uma fábrica de papel, tendo voltado aos estudos na universidade estadual do Ohio, Estados Unidos da América. Estreou-se na escrita com o livro de contos Knockemstiff. Uma obra galardoada com o Prémio PEN/Robert W. Bingham. O seu romance Sempre o Diabo foi premiado em França com o Grande Prémio da Literatura Policial e com o Prémio Mistério da Crítica. Em outubro passado esteve no Festival Literário Internacional de Óbidos. E aceitou responder às minhas questões no Blog Júlia. Um privilégio.

A propósito do seu tema no FOLIO, quão difícil é encontrar a normalidade na anormalidade… Ou seja?
Há muitas maneiras de ver isto, mas para mim, encontrar normalidade na anormalidade depende de não julgar e conhecer pessoas fora da minha “zona de conforto”. Além disso, quem sou eu para decidir o que é normal? Por exemplo, experimente um dia comum na vida de um viciado em heroína, sem-abrigo, tentando sobreviver nas ruas da Filadélfia e um dia de um curdo que luta pela sua vida no Médio Oriente. Eles não estão na mesma situação, de forma alguma, e qualquer uma delas seria, no mínimo, inquietante para mim, mas provavelmente parece bastante “normal” para eles. O facto de se ter alguma empatia ajuda.

No Folio, disse que Donald Trump vai muito além de uma personagem ficcional. Na sua perspetiva, quais os maiores medos que inspira o atual Presidente dos Estados Unidos da América?

Por esta altura, qualquer pessoa com meio cérebro sabe que Trump, um valente narcisista e um homem cruel e ignorante, com vocabulário de uma criança de oito anos, ganhou destaque e poder ao estimular o medo. Medo de estrangeiros, ou pelo menos daqueles que não são caucasianos, medo de mudar etc. Ele prometeu, como Reagan antes dele, voltar a tornar-nos grandes, o que, evidentemente, para ele e para os seus apoiantes, significava que precisávamos voltar ao “bons velhos tempos” antes dos programas sociais instituídos por Roosevelt nos anos 30 e por Johnson, nos anos 60. Enquanto Trump tenta atrasar o relógio (e ganhar o máximo de dinheiro possível, para ele e para os seus amigos gananciosos), está a  destruir o governo de dentro para fora, destruindo relacionamentos com aliados que tivemos por muitas décadas, e talvez o mais perturbador, num movimento verdadeiramente orwelliano, está a destruir a importância da verdade no discurso público. Uma vez, conheci um homem que foi condenado à prisão por um ano por roubar um pacote de queijo, mas alguém como Trump, um ditador mentalmente instável e um perigo para todos, é aparentemente intocável. Onde está a justiça? Serão necessários muitos anos para desfazer os danos que Trump causou, isto é, se tivermos a sorte de ter essa hipótese.

Pode partilhar comigo/connosco uma dica para quem escreve?
Aprender a escrever é como aprender a tocar um instrumento musical – é preciso prática! Portanto, disciplina-se a sentar-se à mesa todos os dias (ou quase todos os dias) e tente colocar as palavras no papel por um determinado período de tempo. Pode demorar uma hora ou cinco, mas mesmo que nada esteja a acontecer, aguarde.

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