Estava entre os livros, relíquias clássicas, que trouxe de casa dos meus pais. Recentemente voltei a encontrá-lo e a folhear as páginas que, embora tenham sido escritas por Camus há mais de 70 anos, são agora, de novo, assustadoramente atuais, face à pandemia da COVID-19.
O escritor argelino é daqueles que estão destinados a serem best-sellers para sempre. Na Europa e também no Brasil, A Peste de Albert Camus voltou aos escaparates das livrarias. E eu voltei a ler, com outros olhos e perspetivas, a história que se passa por volta de 1940, em Orã (cidade natal do escritor),
na qual a doença, que começa por atingir primeiro os ratos, contagia depois também os humanos, levando a muitas mortes de crianças e adultos.
A partir daqui: há personagens como o médico Rieux, empenhado nas brigadas sanitárias, há quem defenda e se oponha ao fecho da cidade, há o padre que fala em castigo divino, há quem aproveite o assunto para vender. E há quem, muitos anos depois da publicação deste livro que foi considerado uma metáfora para a opressão do nazismo, volte a lê-lo, esperando aprender algo de novo com este “espelho”. À BBC, o professor brasileiro Raphael Luiz de Araújo, investigador das obras de Camus, dizia a propósito do facto de A Peste voltar ao centro das atenções:
“Por falarem da condição humana, estes livros ganham interesse. Perante a doença precisamos de repensar-nos — quem somos, o que estamos a enfrentar”.