Casal na Aldeia Lar

“Eu costumo dizer aos residentes que é preciso ter sonhos”, Padre Domingos Costa, 80 anos, o fundador do sonho “aldeia lar”

"Eu costumo dizer aos residentes que é preciso ter sonhos", Padre Domingos Costa, 80 anos, o fundador do sonho "aldeia lar" Aldeia-São-Jose-em-Portimão

Aldeia São José

Este é o casal mais idoso da vizinhança. Maria Perpétua tem 95 anos e o marido, Daniel, já é centenário. Mas apesar dos seus 103 anos e os dias de vida que sabe de cor, ainda mantém a rotina diária e, não fosse a pandemia, faria as habituais caminhadas, iriam juntos à piscina e aos passeios organizados pela freguesia.
Este casal faz parte dos 115 residentes da “aldeia lar”, na Mexilhoeira Grande, concelho de Portimão, conhecida por aldeia de S. José de Alcalar, em honra do padroeiro São José Operário (e carpinteiro). Um espaço com 52 moradias no campo onde as pessoas procuram fazer a sua vida normal e ter autonomia. Um espaço que, 25 anos depois da primeira pedra lançada, continua a ser inovador e único. “Na altura, quando comecei a desenvolver o projeto, recebi aqui muitas visitas de Portugal e até do estrangeiro. Tinham em mente replicar a ideia. Infelizmente, que eu tenha conhecimento, nenhuma avançou”, conta-nos o Padre Domingos Costa.

“Quando eu morrer, quem tomará conta do meu filho?” – a pergunta que o padre jesuíta ouvia com frequência dos pais com filhos deficientes foi a sua maior inspiração e motivação para concretizar o sonho. “E afinal o meu sonho foi realista”, diz-nos o homem a quem os alemães (companhias religiosas) doaram dinheiro para alavancar as primeiras moradias, na sequência de mais de 40 anos em serviços religiosos na Alemanha. As doações permitiram arrancar a construção em 1989 e dez anos depois, com a resiliência e o empenho de três pedreiros e dois serventes, nasceu a aldeia onde se envelhece “com qualidade de vida”. “A prioridade são os mais pobres da terra”, conta-nos o Padre Domingos Costa. Já teve pedidos de pessoas de fora do concelho, mas o Padre Domingos Costa trata de pôr fim às ilusões: “as pessoas que chegam de longe vêm iludidas. E acabam depois por se sentirem desenraizadas. É uma questão de raízes. As pessoas preferem envelhecer na sua terra e próximas de quem conhecem”. Mas para o padre jesuíta, existem mais critérios para o bem-estar: “a Segurança Social contactou-me a pedir para colocar muros, portões para segurança dos idosos. Mas esta aldeia não é uma prisão. As pessoas circulam à vontade e sem limitações de horários. Nunca ninguém foi atropelado ou se magoou pela ausência de muros. Esta aldeia não é um espaço formatado como a maioria dos lares convencionais, regulados, asfixiantes”.

Os familiares visitam os residentes (atualmente as visitas estão limitadas dada a conjuntura de pandemia) e estes também podem fomentar o convívio na sala comum de refeições. Ninguém fica ao abandono, nomeadamente as pessoas acamadas, a quem os colaboradores ou voluntários da aldeia levam a comida e ajudam na higiene.

O espírito é de entreajuda desde o primeiro momento – desde o arquiteto que ofereceu o projeto da aldeia, passando  pela família da terra que ofereceu o terreno ou pela empresa que, gratuitamente, assegurou a rede de águas.

O Padre Domingos Costa sonhou. E a obra nasceu. “Eu costumo dizer aos residentes que é preciso ter sonhos, ideais. Eu tenho sonhos planeados até 2025. E depois? Depois arranjo outros. Se me pergunta se penso na morte, penso. Todos os dias. E quanto mais penso na morte, mais aprecio a vida. Porque é a única que, por enquanto conhecemos”.

"Eu costumo dizer aos residentes que é preciso ter sonhos", Padre Domingos Costa, 80 anos, o fundador do sonho "aldeia lar" Aldeia-Lar

Aldeia Lar Portimão

 

"Eu costumo dizer aos residentes que é preciso ter sonhos", Padre Domingos Costa, 80 anos, o fundador do sonho "aldeia lar" Padre-Domingos-Costa

O padre Domingos Costa, mentor da primeira ‘Aldeia Lar’ para idosos, implementada há 25 anos em Alcalar, em Portimão

 

 

 

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