Por João da Silva. Um testemunho de quem celebra o aniversário em tempos de confinamento e pandemia, e encontra a esperança nos amigos que, de surpresa, tocam à campainha ou simplesmente teclam a palavra “parabéns” no computador.
“O altruísmo e a manifestação genuína de carinho comovem-me até à lágrima. Ontem, dia do meu aniversário, recebi uma chamada de um amigo que me disse estar perto de minha casa e desci para o ver. Esperava-me com uma garrafa de vinho. Não o via há dois anos. Conheço-o há cinco, não mais do que isso. Conheci-o quando, através de uma amiga em comum, se ofereceu para me ajudar a ultrapassar um problema de saúde. Fê-lo gratuitamente. E não foi uma vez, foram semanas a fio durante alguns meses. E fê-lo porquê? Porque sim. Porque sente ser o correto. Porque sente ser a sua missão. Ontem, trouxe-me uma garrafa de vinho. E nem o timing falhou, pois estava prestes a sentar-me para almoçar. É uma pessoa excecional e rara o Daniel. Não pelo vinho, não por me ter ajudado, mas por ser genuinamente uma pessoa boa. E isso comove-me. E dá-me esperança. A esperança que falha quando se percebe um crescimento incompreensível da intolerância e do ódio na altura em que mais nos devíamos tolerar, compreender e ajudar uns aos outros.
Não me levem a mal por não citar todos os que me felicitaram. Agradeço-vos com o mesmo carinho (não com o mesmo aconchego ébrio que o vinho proporciona; esse é, por razões óbvias, exclusivo do Daniel) e comovo-me, acreditem, quando penso naquele instante de atenção plena em que procuraram o meu nome no telefone ou teclaram a palavra «parabéns» no teclado do vosso telefone ou computador.
Considero-me uma pessoa cheia de sorte. Tenho saúde, uma família que me ama e acarinha, um teto e comida na mesa todos os dias (também tenho trabalho, embora interrompido pelas vicissitudes da pandemia). E tenho amigos. Eu não tenho sorte, eu tenho tudo.
Obrigado!”