Sapateiro Jorge Claro

“Nunca pensei ser tão acarinhado pela comunidade local”, sapateiro Jorge Claro

Em fevereiro, a decisão estava tomada. O sapateiro Jorge Claro ia encerrar a loja em Torres Novas e procurar um novo emprego. O segundo confinamento ditou a morte do seu negócio, pela falta de clientes, que, em teletrabalho, deixaram de ter necessidade de arranjar sapatos. “Tinha muitos clientes que trabalhavam em Lisboa, e que ao fim de semana, me entregavam o calçado para reparar. A situação piorou também quando as romarias e as festas da terra foram canceladas, e os sapatos deixaram de se estragar tanto”, conta Jorge Claro. O sapateiro realça ainda a falta de apoios para a arte em que trabalha desde 1997. “Comecei a aprender o ofício na Suíça, onde casei e vivi muitos anos. Era um país que me oferecia muitas condições de trabalho e de qualidade de vida. Mas não era o meu país. Por isso, regressei e cá estou há 15 anos”, partilha.

O primeiro confinamento não foi nada fácil para os negócios locais que deixaram de ter clientes de um dia para o outro, diz Jorge. Mas o segundo não lhe deixou alternativa. Antes mesmo de encerrar portas, foi recebido por uma jornalista do MedioTejo.net  que contou como “o segundo confinamento ditou o fim do negócio do sapateiro Jorge”. A notícia passou de boca em boca, de página em página na redes sociais e a comunidade local uniu-se em mensagens  e movimentou-se em ações que comoveram o sapateiro de Torres Novas. “Nunca imaginei ser tão acarinhado pela população local. Recebi comentários de clientes e ex-clientes que prometiam voltar. Incentivavam-me a repensar a profissão de que tanto gosto”.

"Nunca pensei ser tão acarinhado pela comunidade local", sapateiro Jorge Claro Alfarrabista

Alfarrabista da Cidade Torres Novas

O senhorio baixou-lhe a renda. E a porta voltou-se a abrir. Porque os clientes foram ao armário e voltaram a trazer-lhe os sapatos. “Eu acho que muitos dos clientes nem precisam verdadeiramente do meu serviço. Mas vêm cá na mesma e dizem-me: ‘ponha aí umas capas nas botas'”.

A onde de solidariedade salvou o negócio de Jorge Claro, que, motivado pelas palavras de ânimo, continua de portas abertas.

Esta história não é só sobre o Jorge. É sobre os Jorges deste país, citando o alfarrabista da cidade Adelino Pires. E é também sobre as ondas de solidariedade que fazem com que os negócios se mantenham e sobrevivam a estes difíceis tempos de pandemia.

Comentários

comentários