A casa de Sandro

“Sempre lutei para ser o mais independente possível”, Sandro Carvalho, 41 anos, paraplégico

Sandro Carvalho, 41 anos, está a reconstruir a casa da sua infância. E a vontade é tanta que nem o facto de ser paraplégico o impede de deitar paredes abaixo, assentar tijolos, caiar e… transpirar muito. Sozinho, com todo o tempo do mundo e a experiência dos tempos em que era servente, tratou das obras dos esgotos, recuperou as canalizações e parte do sistema de eletricidade. Conta com amigos e a boa vontade de alguns, que conhecendo a sua história, aparecem para lhe estender a mão e oferecer alguma ajuda. É o caso de um empreiteiro, que, sensibilizado pela força de Sandro, contactou-o, com apoio na construção. “Ligue-me quando tiver os materiais que eu ajudo, disse-me ele. Mas faltam os materiais, azulejos, pavimento, e claro, todo o recheio da casa…”, conta Sandro. Mas não falta garra nem vontade para pôr mãos à obra. Desde o sol nascer.

Há 20 anos quando acordou no Hospital de São José, após 15 dias em coma, lembra-se da primeira pergunta que lhe fizeram: “sabe por que está aqui?”. Ele não sabia. A equipa clínica explicou-lhe que tivera um acidente de viação, numa estrada perto do Cartaxo e que se despistara, sozinho. Há 20 anos, quando abandonou o Hospital com a prescrição de tratamento de fisioterapia em Alcoitão, confessa que não entendeu bem o diagnóstico: paraplégico.

“Na altura, não conhecia o termo… não se falava disso”. Voltou para casa da mãe com uma reforma de invalidez e sem poder prosseguir aquilo que fazia desde os 13 anos: “comecei a trabalhar nas obras muito cedo, e aos 16 anos, abandonei a escola para ter um ordenado e poder ser independente. Ser independente era tudo o que desejava. Aos 18 fui para a tropa e, mais tarde, Áustria. Mas as falhas no ordenado fizeram com que voltasse a Portugal. Quando sofri o acidente, com 22 anos, trabalhava para um empreiteiro e vivia nas Quintas (Ribatejo), com a minha mãe, 62 anos, a minha irmã, cunhado e sobrinho. Foi com eles que continuei a viver até há bem pouco tempo”, partilha.

Até o pai, que vive e trabalha atualmente no estrangeiro, lhe ceder este espaço para viver. “Esta foi a casa onde cresci com os meus pais antes de se separarem. O meu pai entregou-me agora este espaço, para que possa recuperá-lo e viver. É isso que me ocupa todos os dias. No anexo, onde vivo atualmente sozinho, acordo às 8h, visto-me e venho para a obra. De vez em quando, ainda dou uma mãozinha na oficina de um colega, que, por sua vez, arranja o meu carro quando eu preciso. A minha mãe ainda me ajuda. Mas faço o mais possível para ser independente. Como sempre”, realça Sandro.

Facebook do Sandro
IBAN, a pedido de muitos seguidores: PT50 0007 0351000372800002 9

Comentários

comentários