11 Setembro - foi há 20 anos

“Quando por fim desceu as escadas de 25 andares, deparou-se com aquela imagem terrível: corpos no teto de cristal do átrio do World Trade Center”, Jorge Vera, 50 anos, na altura a trabalhar em Nova Iorque

Jorge vive e trabalha atualmente em Lisboa, na área da banca. Mas há 20 anos, o seu escritório era em Nova Iorque, a cerca de 10 km de distância das Torres Gémeas, onde, mais precisamente na Torre Norte, trabalhava o seu cunhado, numa empresa de sistemas de informação.

“Passava das 8h45 quando cheguei ao escritório e vi todos os meus colegas numa sala, assustados, a olhar para a televisão. Não fazíamos ideia do que passava. Pelo écran, chegaram-nos as primeiras imagens que explicavam a enorme nuvem de fumo por cima da cidade, que observávamos pela janela. Mas a verdadeira explicação ainda era desconhecida. Ninguém sabia o que exatamente se passava. Mas dava para perceber que era algo de grande dimensão”, recorda Jorge.

8h47: O voo 11 da American Airlines, com 92 pessoas a bordo de Boston para Los Angeles, colide com a torre norte do World Trade Center, em Nova York. O avião chocou entre o 93° e o 99° andar. As pessoas acima do 91° andar ficam presas no prédio. A torre tinha 110 andares.

“Assim que vimos as imagens, começamos a tentar contactar os familiares que, por sua vez, tinham familiares ou conhecidos a trabalhar nas Torres Gémeas. Mas as linhas ficaram obstruídas. Não havia sinal. Ninguém conseguia comunicar com ninguém. O meu cunhado estava incontactável. Hoje, passados 20 anos, ele conta-nos o que aconteceu, daquilo que se recorda. Mas durante anos, preferiu o silêncio no 11 de setembro. Apenas anos mais tarde, conseguiu assistir às imagens e ver pela primeira vez o choque dos aviões contra as Torres Gémeas. E quando, pela primeira vez isso aconteceu, viu-se a si próprio na televisão: um jornalista captou as imagens, na qual estava o meu cunhado, já a salvo, cá em baixo, a olhar para o cenário de terror das Torres Gémeas”, lembra.

“O meu cunhado conta-nos que estava sentado, quando sentiu um estrondo que o projetou, juntamente com a cadeira, de uma ponta à outra do escritório. Segundos depois, surgiu a ordem de evacuação, que deveria ser feita pelas escadas. Sob uma enorme nuvem de fumo, ele desceu 25 andares em poucos minutos. Não recorda tudo. Mas retém a imagem de chegar ao átrio do World Trade Center, olhar para cima, e ver muitos corpos estilhaçados contra o outrora grandioso teto de cristal”, conta Jorge.

Na altura, as imagens eram aterradoramente confusas. Hoje estima-se que entre 50 a 200 pessoas tenham saltado ou caído, na sequência do forte incêndio e do facto de terem ficado sem acesso às escadas de emergência e aos elevadores.

Dezassete minutos depois, o voo 175 da United Airlines colidiu contra a Torre Sul, entre o 77º e o 85º andares. Às 9h59, a Torre Sul desabou. Às 10h28, desabou a Torre Norte.

Não era apenas um fogo, conforme a informação que inicialmente circulava. As suspeitas de ataque terrorista eram cada vez mais uma certeza. No escritório onde Jorge trabalhava, a administração entende que Nova Iorque pode estar efetivamente em perigo e pede aos colaboradores que abandonem o prédio.

“Finalmente consegui estabelecer ligação com a minha esposa, que me disse já ter contactado com o meu cunhado. Através das indicações dela, consegui caminhar pela cidade até encontrá-lo. E juntos fomos até à avenida 42, ao encontro da mãe do meu cunhado (sogra de Jorge), que tem problemas crónicos de saúde. Caminhámos durante mais de 1h pela cidade de fumo. Estávamos exaustos. Um senhor passou de carro, a quem pedimos que levasse, pelo menos, a minha sogra a casa. Felizmente ele ofereceu-se para nos dar boleia a todos. E assim saímos, por um ponto de evacuação de Manhattan”, recorda Jorge Vera, 50 anos, nacionalidade americana (com ascendência equatoriana, por isso o nome Jorge).

Foi há 20 anos. 2977 mortes, entre os quais 19 terroristas. O dia do maior ataque terrorista em território americano.

Comentários

comentários