Dia Língua Gestual, com a Xana

Dia da Língua Gestual – Hoje é dia de conhecermos a Xana

Não vidas banais, costumo dizer. E a vida da Xana (Alexandra Ramos), a menina do quadradinho que me faz companhia todos os dias (intercalando com a intérprete Sónia), não é exceção. A Xana tem 45 anos, 5 filhos e um neto. E é filha de pais surdos. “Na altura, era comum os pais surdos entregarem os seus bebés aos avós ouvintes, para que tomassem conta dos netos, nos primeiros anos de vida. Na minha família, tal nunca se colocou em questão. A minha mãe criou três filhos, dois deles gémeos, eu e o meu irmão. A minha avó visitava-nos ao domingo. Mas era a minha mãe quem cuidava de nós a tempo inteiro, recorrendo a algumas estratégias. Por exemplo, atava um cordel ao meu pulso e outro ao pé do meu irmão, e este movimento dava-lhe a indicação de quem estaria a chorar ou a precisar de mudar a fralda…”, conta a Xana.

Xana é intérprete de língua gestual na SIC há 18 anos. Mas, na verdade, tem sido intérprete a vida inteira. Primeiro, ainda sem formação, começou por ser intérprete dos pais. Esta manhã, na Casa Feliz, o pai de Xana quis partilhar um episódio muito comovente. Xana tinha oito anos de idade quando precisou de acompanhar os pais a consultas médicas. Foi assim que a nossa colega aprendeu pela primeira vez a palavra “tumor”. “Eu nunca antes tinha ouvido ou ‘traduzido’ esta palavra e nem sabia o seu significado. Então soletrei para os meus pais a palavra que o médico me disse”, conta-me Xana.
A mãe tinha cancro dos ovários. E na altura, há quase 40 anos, “tumor era sinónimo de morte”. À terceira consulta, o médico “disse que aquela situação não podia continuar. Era muito duro para uma criança ter que traduzir os diagnósticos da mãe”. Foi nesta altura que o pai contactou a Associação de Surdos e, em conjunto, com base nesta história, formalizaram uma carta endereçada ao Governo, solicitando apoios de intérpretes para famílias neste contexto. Na altura, a Associação tinha apenas uma intérprete que não conseguia dar resposta. Hoje “existe já um subsídio para acompanhamento de doentes surdos em consultas/exames clínicos”. E Xana acredita que aquele que foi um dos episódios mais duros da sua vida ajudou a fazer a diferença.

Ainda hoje faz a diferença. Neste quadradinho, leva a mensagem a uma vasta comunidade. “O programa Júlia é muito emocional. E eu, antes de ser intérprete, sou pessoa. Comovo-me, nomeadamente com os casos de cancro, pois recordo-me sempre do que passei e sofri com a minha mãe. Traduzo fielmente a mensagem. Mas no final do programa, sinto-me exausta”.

Obrigada Xana. Pela companhia diária. E por dares o melhor de ti na caixinha mágica.

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