Cláudia Fernandes, Portuguesa na Áustria

“Aqui na Áustria fala-se do militar que tem ajudado Portugal a combater a pandemia”, Cláudia Fernandes, portuguesa a viver na Áustria, há 18 anos

“Neste momento, estamos confinados. Comércio, restaurantes estão fechados. Apenas as escolas se mantêm abertas, proporcionando assim aos pais trabalharem a partir de casa. Mas não se vê quase ninguém na rua. O confinamento começou, inicialmente, para as pessoas não vacinadas. Os números continuaram altos. Chegámos aos 15 mil casos de pessoas infetadas com COVID-19 por dia. O confinamento foi, passado uma semana, alargado a toda a população”, conta-nos a professora Cláudia Fernandes, 43 anos, a viver na Áustria há 18 anos.

Chegou a Viena com um contrato de seis meses, ao abrigo de um programa que pretendia levar o ensino de línguas menos faladas a vários cantos da Europa. Cláudia foi dar aulas de português e, quando o projeto terminou, arriscou ficar por sua conta e risco. “Perguntam-me sobre o tempo e a alimentação… É claro que ambos são melhores em Portugal. Não há comparação. Mas eu não fiquei na Áustria por causa do tempo e da comida”, refere.

Embora os contratos não sejam efetivos, a Cláudia nunca faltou trabalho. Além de tradutora, dá aulas na Universidade, estimulando a criação de novos cursos para a aprendizagem da língua de Camões: “há pessoas com mais idade que também querem aprender, porque gostam da língua, porque costumam visitar Portugal ou porque simplesmente estão interessados em fazerem ginástica mental”.

Sente-se em casa. E cada vez mais familiarizada com o modo de pensar e de viver austríaco. “Culturalmente, os austríacos são um pouco avessos às vacinas. Há um certo ceticismo. Em Portugal, quando vamos ao médico e este não receita qualquer medicamento, o paciente fica desconfortável. Aqui o desconforto sucede com o oposto. E, então, se o médico prescrever um antibiótico, ainda pior”, conta-nos.

Na Áustria, a taxa de vacinação (à data de 8 Dezembro) é de 68%. Em Portugal, a taxa está nos 89%. “Portugal está bem visto, com base nas notícias que nos chegam. Os meus amigos na Áustria têm feito comentários sobre o “militar” que se destacou na campanha de vacinação e nestes tempos de pandemia”, conta-nos.

A baixa taxa de vacinação na Áustria, deve-se, na perspetiva de Cláudia, ao ceticismo que paira sobre a vacinação, em geral, e, em particular, sobre as vacinas contra a COVID-19. “O processo de agendamento também não ajudou. Em Portugal, as pessoas eram notificadas. Na Áustria, são as próprias pessoas que têm que tomar a iniciativa de agendar”, acrescenta.
Na Áustria, os testes à COVID-19 são gratuitos. “Sempre foram gratuitos, o que pode ter também contribuído para uma diminuição na taxa de vacinação. As pessoas foram sempre controlando. A realização de testes foi sempre incentivada ao máximo”, destaca. Nas escolas, que durantes os últimos confinamentos, não encerraram, os alunos são testados várias vezes por semana.

A professora de português de Áustria salienta mais uma distinção entre ambos os países: “Toda a minha família está em Portugal e por isso viajo com frequência. Em Lisboa, há pouco tempo, estranhei não me terem pedido certificado nem teste negativo para entrar em estabelecimentos. Aqui, desde há muito tempo que, para tomar um café, tenho que apresentar certificado de vacinação”.

Cláudia foi vacinada com a Astrazeneca, que não foi suspensa na Áustria, na primavera, ao contrário de outros países europeus. A Astrazeneca já não consta contudo das opções para a 3ª dose, tendo Cláudia, por isso, levado uma dose da Pfizer. No seu círculo de amigos, todos estão vacinados. E ainda antes da Agência Europeia de Medicamentos ter dado parecer positivo à formulação pediátrica da vacina contra a COVID-19, já era possível, na Áustria, vacinar crianças dos cinco aos 11 anos.
Foi a decisão que tomaram alguns casais amigos de Cláudia (uma lituana casada com um holandês e uma russa casada com um ganês): “as crianças foram vacinadas e as mães, que são amigas minhas , não reportaram qualquer efeito secundário da vacina nas crianças”, conta-nos.

A partir de Fevereiro, a vacina contra a COVID-19 passa a ser obrigatória na Áustria para todos os cidadãos com mais de 14 anos. E para quem desrespeitar a ordem de vacinação, a multa pode ir até 3.600 euros. Ficam de fora desta obrigação grávidas, recuperados da doença há menos de seis meses e pacientes que tenham uma justificação médica.

Quanto ao confinamento geral na Áustria, termina este domingo. Mas a segunda-feira não será um dia igual para todos os habitantes: “a Áustria está dividida por regiões e cada presidente de cada região irá decidir de forma distinta. Existem regiões que permanecem confinadas e outras, como no Tirol, preparadas para a abertura total”.

Cláudia já tomou a sua decisão e vai manter o ensino à distância, até final do período letivo. Entretanto há férias de Natal, em Portugal, com bacalhau, família e os mercados natalícios de rua.

 

 

 

 

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