Bertha Rosa-Limpo, a menina envergonhada da alta burguesia que não sabia estrelar um ovo, acabou por se tornar numa das maiores divulgadoras da cozinha em Portugal e autora de um clássico da literatura gastronómica: “O Livro de Pantagruel”. Algumas das suas receitas, contudo, acabaram por ficar de fora desta “bíblia”. Mas o neto da autora, Nuno Alves Caetano, em homenagem à avó, decidiu compilá-las agora em “As Doces Receitas da Minha Avó Bertha Rosa-Limpo”. Entre as 170 receitas, o Nuno destaca-nos sobremesas como o Bolo de Natal e a Sobremesa de Natal. Mesmo a tempo!
Como é que surgiu a ideia do livro “As Doces Receitas da Minha Avó Bertha Rosa-Limpo”?
Ao longo dos anos a minha Avó foi criando e recebendo milhares de receitas que obviamente não poderiam constar todas no Livro (Pantagruel). As que ficaram de fora e, após serem experimentadas, foram selecionadas para virem a ser incluídas aquando de uma reformulação do livro, ficaram devidamente arquivadas. Face ao momento amargo que vivemos nos últimos dois anos, devido à minha costela gulosa e, simultaneamente, querendo prestar uma homenagem à minha Avó no ano em que se celebra o 75º ano da publicação do Pantagruel, resolvi editar este livro, só de doces, para adocicar os nossos dias.
Pode destacar-nos algumas dessas sobremesas – alguma da qual seja particularmente apreciador?
Não me recordo de nenhum episódio especial referente a estas receitas. Quanto a destacar uma, é difícil, mas como grande apreciador de chocolate, atrevo-me a referir a “Charlotte de Chocolate”.
A sua avó é uma personalidade marcante a vários níveis. O que mais admirava nela?
A sua força, vontade de viver, perseverança e humanidade.
Como era quando a avó estava cozinha? 😊 No dia a dia e em épocas como o Natal. Como se passava o Natal?
A Avó estava quase todos os dias na cozinha. Era um corrupio entre ela, a minha Mãe e o meu Tio Jorge, com trocas de ideias e experiências. O Natal, em termos gastronómicos, cingia-se ao peru e ao bacalhau. O peru, quase sempre era cozinhado em casa da Avó e o bacalhau em nossa casa, mas por vezes, alterava-se a ordem dos fatores. Os doces tradicionais eram quase todos feitos pela Avó. A noite de Consoada era sempre em casa da Avó e o serão do dia 25 também.
Crescer “no meio de tachos e panelas” influenciou certamente a sua vida. Por exemplo? E na cozinha, tornou-o exigente – do ponto de vista de quem cozinha e de quem prova.
Influenciou porque me tornou exigente, sobretudo junto de profissionais. Quando vou a um restaurante e peço, por exemplo, um caril e me aparece uma mixórdia com muito molho, mas que de caril tem zero, fico fulo e acho imperdoável. Em casa de amigos já não tenho esse perfil e, diga-se de passagem, que tenho amigos excelentes cozinheiros, homens e mulheres, em casa de quem como divinalmente. Quando cozinho, tento ser o mais competente possível em memória da Família gastronómica…
Atualmente no seu Natal – o que é que nunca falta (das receitas de Bertha Rosa-Limpo)?
O peru, sempre cozinhado (e bem) pela minha Mulher e com umas dicas minhas…
Este livro cheira a presente de Natal. Por onde sugere que comece?
Este livro é, sem querer puxar a brasa à minha sardinha, um excelente presente de Natal, um “doce” presente de natal. Talvez começasse, até pelo nome, exatamente pelo «Bolo de Natal».