Crónica de Magda Fernandes, Mulher, Mãe, Advogada especializada em Direito da Família e Menores. Cronista Júlia, De Bem com a Vida.
Dia de Ano novo pede um momento de reflexão. Enchi-me de coragem e vontade de determinar o meu destino desta manhã, rumo à praia. Era certo e sabido que a manhã era minha. Sem interrupções. Isto até receber a chamada. A chamada do pai desesperado, cuja menor ainda não lhe foi entregue pela mãe. E lá vai de contactar parte contrária e vestir a capa de salvadora do Ano Novo deste pai, nos seus direitos de estar com a filha.
Todos os anos a história se repete e todos os anos ingenuamente acho que pais e mães se tornaram mais ajuizados. Deixaram de usar os filhos para atingir o outro pai. Respeitaram acordos de regulação de responsabilidades parentais. Foram simplesmente pais e não ex-cônjuges, ex-maridos e ex-mulheres, a espumar de vontade de instrumentalizar o menor em benefício próprio.
Todos os anos a história se repete da mesma forma. Há requerimentos urgentes ao tribunal, há troca de galhardetes, há quem queira o Dia de Natal quando nunca o quis, e o Ano Novo porque no ano anterior foi ao contrário. E esgrimem e trocam argumentos e mensagens e galhardetes e ofensas. Em vez de trocarem a filha, ponto. Eu lá vou apagando o fogo da miséria em que se torna uma época de suposta tranquilidade. Eu e os meus botões lá pensamos por que motivo não agimos todos de forma consistente com a nossa qualidade humana. Por que arranjamos razões para tornar desnecessariamente triste um Natal aos nossos filhos? Em que é que isso contribui para a nossa felicidade a não ser de forma egoística? E deixou de haver passeio sem interrupções pela praia. Não que isso me importe muito, mas seria um sinal positivo e ansiosamente aguardado de que pais e mães estavam mais ajuizados e focados nos filhos. Não estão. Talvez no próximo ano tenha mais sorte.