Atualmente, segundo a Unesco, existem 7102 línguas no mundo: 7102 tribos. “Pax English” é um livro, e também uma viagem, que procura demonstrar que, quantos mais falarem a mesma língua, menos conflitos teremos. Ou, dito de outra forma, “quanto mais fizermos pela eliminação das múltiplas identidades tribais, maior colaboração entre os homens e mais paz no mundo”, defende o escritor Rodrigo Moita de Deus.
“Elvas, Portugal, 2019. Estava sentado à mesa com a Raquel e comecei a falar sobre o livro.” Como surge a ideia de escrever um livro sobre “a nossa tribo”, a “linguagem”?
Numa mesa em Salvador. Era uma discussão sobre a influência do português. Perdi a discussão. Na manhã seguinte comecei a escrever o livro.
Cidade da Praia, Cabo Verde (junho 2012)
Não sendo este um livro de viagens, as viagens que o Rodrigo fez acabaram por contribuir muito para este livro, correto?
Somos muitas vezes “reféns” da nossa realidade. Acreditando que a nossa realidade é a realidade de todos os outros que nos rodeiam. E o mundo é muito maior do que isso. Tive a sorte de, em trabalho, ir conhecendo outras tribos, culturas e realidades. E quanto mais conhecemos, mais pontos conseguimos ligar.
“A melhor forma de mudar o mundo é contar uma estória”.
E o Rodrigo conta aqui imensas estórias. Gostámos particularmente da forma como conta a de Adão e Eva. E a serpente.
Que estória mais lhe deu prazer contar em “Pax English”?
Diverti-me imenso a escrever a parte sobre “Adão e Eva”. Mas sublinhava a estória e a história do cristianismo na sua relação com as línguas. Foi verdadeiramente uma “smoking gun” para a “teoria” do livro de que as línguas unem e desunem.
“Quanto mais comunicação entre as tribos, menos conflito entre as tribos”.
O episódio da Torre de Babel não é verdadeiro, disse o seu filho. Mas é, então, um aviso urgente?
Um aviso ou uma lição antiga que os homens foram esquecendo. Juntos somos capazes do impossível. Separados nunca conseguiremos nada. Tão simples, tão óbvio e tão esquecido.
“É frequente dizermos que a revolução digital matou os livros. A Netflix matou a TV.” Etc.
Enquanto um dos criadores do NewsMuseum, considera que estas “ideias” são falsas crenças?
Somos muito definitivos. E, na prática, o formato é secundário. A verdade é que a tecnologia (especialmente o digital) não tem matado os media. Tem transformado e reinventado os media. Nunca se leram tantos jornais, nunca se ouviu tanta rádio, nunca se consumiu tanta informação. O formato e a forma é que mudaram.
“Comprar livros seria maravilhoso se pudéssemos também comprar o tempo para os ler”, Arthur Schopenhauer. Esta citação que o Rodrigo inclui no livro é “maravilhosa”. Não podendo nós comprar “tempo”, tem algum truque para ler os livros que gosta?
Sou um “colecionador de livros”. O que é uma ótima desculpa para continuar a comprar livros sem ter tempo de os ler. Sempre naquela esperança que, um dia, na reforma, seja possível usar a “coleção”. Enquanto isso não acontece, tenho duas prateleiras de fila de espera.