Fernanda Teixeira

“Hoje já dei 200 saltos à corda”. Fernanda Teixeira, 72 anos

Chamou as filhas e disse: “a mãe vai inscrever-se na Universidade.” Elas entreolharam-se e, em silêncio, sentenciaram: “Chegou. A demência da mamã chegou.” Só que não. Tinha chegado a lucidez. A luz ao fundo de um longo túnel de anos de escuridão. Foi há quatro anos. A Fernanda Teixeira que, antes desta conversa, já contabilizou 200 saltos à corda e que se prepara para passar o serão a estudar a última ferramenta que aprendeu num curso digital que frequenta, “estava no fundo do poço” quando se perguntou: “Fernanda, mas o que é que tu sabes fazer?”.

Recuemos no tempo. Para conhecer a outra Fernanda, a mulher furacão que, do zero, fundou uma empresa de transportes à qual havia dedicado 25 anos. A mulher que nunca acreditou na falência, apesar do contexto de crise que se avizinhava e que acabaria por destruiu todo um projeto no qual Fernanda depositou as poupanças até ao último cêntimo. “Confrontei-me com um pesadelo, a minha empresa era um projeto de vida, no qual estavam ainda envolvidas as minhas filhas e genros. Eu sofri muito com o sofrimento deles. Tive que me render às evidências. A empresa não tinha viabilidade. E quando me deparei com este sufoco, cheguei a pensar que o suicídio era a melhor solução”.

Fernanda não estava a conseguir lidar com o sofrimento dos familiares. O marido, um homem da investigação, “o homem com quem voltaria a casar” após estes 52 anos de alianças, como salienta, mantinha-se firme e próximo. Mas Fernanda pressentia-lhe a dor.

E o fardo do passado não facilitava o contexto. “Eu era uma pessoa muito deprimida. Além da depressão pós-parto que tive, na sequência da maternidade, a perda da minha mãe, com 60 anos”, agravou o seu estado físico e mental.

Há precisamente quatro anos, Fernanda abeirou-se do precipício. “Ou reajo ou entrego-me?”, equacionou. “Vou reagir. Eu vou ser capaz de dar a volta ao texto. Eu vou provar a mim própria que consigo renascer destas cinzas em que estou transformada”.

Entrar na Universidade, onde há 30 anos tinha conseguido entrar mas da qual desistira, pelo facto de ser incompatível com a vida familiar,  pareceu-lhe um bom primeiro passo. “Em breve, está para sair um livro – Caloira aos 70, baseada nesta experiência”, conta Fernanda.

Mas não é a sua estreia na escrita. Em 2019, em edição de autor, publicou Perseverança. Porque, como me conta Fernanda, “toda a base do sucesso parte da tragédia. Se eu não tivesse passado por esta circunstância, pela labuta empresarial em que não há tempo para nada, hoje o presente seria diferente. Às vezes, os desastres são as possibilidades para nos tornarmos Pessoas”.

Aos 72 anos, esta “velha reformada, atrevida e poderosa”, como se descreve, provoca outros a serem Pessoas. “Eu não quero ser um exemplo, eu apenas quero mostrar que sou uma possibilidade”.

E Fernanda Teixeira diz-nos que é possível, aos 72 anos, ser professora de Noções de Antropologia na Universidade Sénior, frequentar dois cursos online (marketing digital e comunicação em público), atualizar o seu canal de youtube (Juventude sem data), ser dona de casa e… ainda dar 200 saltos à corda por dia. “Quando, por força do confinamento, fui forçada a assistir às aulas da licenciatura (ISCTE) via online e deixei de dar os 10 mil passos diários, lembrei-me que, na infância, gostava de saltar à corda. Assim mantenho o exercício“.

Fernanda diz que os seus maiores fãs são os netos. Adoram e comentam os seus novos posts e vídeos. Mas nós, em Júlia, de bem com a vida, também já fazemos parte da lista!

Mulheres que nos inspiram. Bravo, Fernanda!

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