O silêncio de Verónica
Verónica não contou à família estar com COVID. Todos foram contagiados. Todos acabaram por morrer. Verónica, o marido, três filhos.
A seguinte história é contada no diário digital La Nacion, na Venezuela. Verónica começou a sentir um mal-estar geral na segunda semana de dezembro. Além de febre alta, espirrava com frequência. Decidiu então fazer um teste rápido à COVID-19 no qual teve um resultado positivo. Ficou com medo. E ficou em silêncio. Isolou-se em casa, sem contar à família. Passados dias, voltou a repetir o teste e a obter o mesmo resultado. Para a família e para os outros, era “uma gripe muito forte”.
Embora os ajuntamentos estivessem proibidos, o marido saiu de casa para uma celebração que juntou cerca de 20 pessoas. Verónica acabou por contar ao marido e à família. Mas os restantes continuam sem saber.
Quando dá entrada no hospital, já numa situação fragilizada, acusa pneumonia. O marido e os filhos testam positivo, embora sejam pacientes assintomáticos. Em poucos dias, Verónica teve necessidade de ser entubada.
O marido, 33 anos, e os filhos, têm tosse – mas “é do frio”, respondem à família. Quando o marido chegou ao hospital, os pulmões estavam todos pretos. O médico assustou-se. O médico sabia que ele estava doente e não tinha recebido o tratamento adequado”, refere a irmã.
Entretanto, a adolescente Nicol queixa-se de fortes dores de cabeça. E o resto da história não é uma história, é uma tragédia. Verónica é a primeira a morrer. Depois, o marido. E depois o coração de Nicol, que deixa de bater, a caminho do hospital.
Os irmãos mais novos, 4 anos, morreram, no mesmo dia, na sequência de uma broncopneumonia. Aos poucos, em 42 dias a contar desde o positivo de Verónica, todos os cinco elementos desta família morreram.
Acerca deste caso, a médica local, Amelia Fressel, referia à imprensa: “temos que ter cuidado. Temos que pensar que tudo o que parece ser COVID é COVID. Não podemos dizer ‘o que eu tenho é gripe’, porque muitas pessoas com essa gripe morreram. Tudo o que parece COVID é COVID, até prova em contrário”.
“Pode ser uma gripe simples, mas dirija-se ao estabelecimento de saúde público ou privado mais próximo. Quando a doença complica e avança muito, observamos as pessoas a saírem de casa de ambulância, e muitos morrem porque já tem um comprometimento pulmonar muito grande e, obviamente, nada se pode fazer”, esclarece a médica.
O silêncio de Verónica. Para reflexão.