Eu li

Eu apresentei. Eu li. Leiam também. (Sem perder o capítulo do protocolo da Bufa…) Sílvia Baptista dessacralizou o sexo, e o seu exercício resulta numas saborosas cócegas na inteligência.

Começo por dizer que isto é um erro. Eu nunca deveria ter aceite apresentar este livro. Nunca conseguirei ter um terço da graça que ela (a autora) tem.
“Em minha casa ou na tua” não é um manual sexual. Nem um tratado científico. Não tem novas posições sexuais, não inclui receitas para o sémen ficar doce ou truques para fazer uma mulher desmaiar de prazer. Ou um homem. Mas é um excelente texto sobre comportamentos… e mentalidades.
É também a voz de uma nova geração de mulheres… que olham para o sexo com um distanciamento feliz… do pecado e da culpa. E esta serena reflexão é escrita por uma mulher. Que não é médica nem sexóloga. E ainda bem. Ela diz evidências inteligentes. Assume a escrita galhofeira porque o sexo se, não é bom, é uma péssima anedota, mas não esconde erudição. Mitos clássicos, Freud, os estudos das universidades de referência, está cá tudo, mas tudo isso é pouco para enliçar o óbvio: o que é que as mulheres querem? Querem honestidade e franqueza se lhes apetecer a igualdade absoluta de género. Ou seja, sem valoração moral sobre o desejo e o desejo.

Meninas, a vulva existe. Embora não viva grandes dias, diz Sílvia Baptista. Ela esclarece que a vagina é olhada como, e cito: “um fardo, um embaraço, uma espécie de tia velha.”
Ao contrário, o pénis é um vaidoso. Exibe-se, fala-se dele na terceira pessoa, intromete-se nas conversas. E nós mulheres, frouxas, até deixamos que quando se quer menorizar um homem, ele seja denominado um… vaginas.

Ufana-se a piça, amordaça-se a vulva. Os homens exibem volumes e proeminências. Nós mulheres, escondemos rugas e refegos.

Nojo vaginal, deixa a nossa autora triste. E a mim também. Porque o pudor puritano é pobrezinho e arrasa a nossa feminilidade. A vagina tem direitos. Porque existe, porque está nas mulheres como código fundamental da nossa verdade.

A diversidade sexual é muita. Mas este é um livro para heterossexuais. Os homens, ao contrário de que algumas mentes possam pensar, são muito bem tratados. A nossa autora percebe as perplexidade dos nossos interlocutores e desobriga-os de uma tarefa árdua.

Para a Sílvia, o orgasmo feminino é como o lixo reciclado ou o voto eleitoral. Cada um trata do seu. E se não houver orgasmo, não faz mal. Fica o convívio e, quem sabe, uma grande amizade. Ou um grande amor.

A frescura do texto da Sílvia resulta do facto de não estar a escrever para nenhuma academia, não temer as palavras e nunca radicalizar posições.

Atreve -se apenas a sublinhar alguns mitos insuportáveis na ótica feminina.

Leiam e isto talvez vos ajude, e poupem as vossas companheiras a situações constrangedoras. E não se esqueçam de passar pelo protocolo da Bufa. Um capítulo inteiro sobre gases partilhados e o seu significado no contexto sexual e amoroso.

Uma linha final para “Em minha casa ou na tua”: Sílvia Baptista dessacralizou o sexo, e o seu exercício resulta numas saborosas cócegas na inteligência.

Sei que ela tem uma fantasia … que não é sexual. Quer ser o Arnaldo Matos do sexo, uma verdadeira Educadora do Povo, mas não sabe se aguenta um bigode.

Leiam e confiem nela.

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