A Madeira continua em chamas. É dia 10 de agosto e ninguém dormiu a noite passada. Esta manhã a equipa Júlia – De Bem com a Vida esteve à conversa com residentes no local que nos relatam uma situação desesperante de quem teve que abandonar as suas casas.
João Correia reside no Funchal, na freguesia do Imaculado Coração de Maria, e dizia-nos há minutos: “A minha casa não foi atingida, mas o fogo esteve a uns 100 metros, conseguíamos ver as labaredas da nossa casa”. João e os familiares tiveram de abandonar as suas casas: “A situação parecia que tinha acalmado durante a tarde, mas depois quando piorou pegámos em alguns bens mais valiosos e sentimentais, e saímos de casa… Tínhamos também os nossos avós na casa ao lado e fomos buscá-los, pois o fumo estava muito intenso e já havia muitas cinzas no ar. Ontem à noite, tivemos a noção que a nossa casa ia ser afetada num instante e só por sorte o fogo não continuou a avançar na nossa direção”.
A casa de Andreia Pereira, residente em Vila de Câmara de Lobos, não foi atingida diretamente pelas chamas, ao contrários da dos seus familiares: “Tenho os meus tios e dois primos alojados no quartel da Nazaré… Muitos tios vivem nas lajinhas, no Monte, e tiveram que fugir porque o fogo estava mesmo atrás da casa”, revela. “Há quatro anos atrás a casa dos meus tios foi destruída pelos incêndios, e agora revivem de novo o momento. Graças a Deus, os bombeiros conseguiram afastar o fogo das casas, mas infelizmente perderam os animais que tinham”.
Madalena Venâncio, de 61 anos, vive desde o continente o drama que se respira na ilha. “Estou em choque, as palavras não me saem. A minha mãe, irmãos, e restantes familiares, tiveram todos que deixar as suas casas”, começa por contar a Júlia-De bem com a Vida. Madalena cresceu na zona da Pena, local onde vivem ainda os seus familiares. As casas foram evacuadas, não sabem se arderam, se os bens de uma vida estão agora em cinzas. “A escola onde estudei ardeu. Penso que as habitações dos meus familiares estão fora de perigo, mas nem eles sabem bem, não é aconselhável ir lá…”, conta-nos, emocionada.
Madalena herdou o nome da mãe – a matriarca da família, com 89 anos, está bem. “Está confusa. Tem Alzheimer em fase inicial, pelo que tem noção de tudo o que está a acontecer. É uma dor muito grande falar com ela, perceber como está desolada…”, conta.
“Não quero pensar como vai ser recomeçar tudo outra vez, apenas seis anos depois. Depois das cheias a Madeira ficou com um aspeto devastador. Mas agora, com o negro das chamas… nem quero imaginar”, lamenta.
Seis anos depois, a Madeira volta a estar em estado de emergência. Em 2010 foram as cheias, há três anos incêndios e hoje, um cenário dantesco de chamas engole o Funchal.
Informações confirmadas pelo Governo regional dão conta de 3 mortos, uma pessoa desaparecida e 950 deslocados. O emblemático hotel Choupana Hills ardeu. Esta noite, partiram para a Madeira forças da GNR, do INEM e 20 bombeiros, para ajudar no combate às chamas.
Ponto da situação, às 10h da manhã, em Conferência de Imprensa, pelo Presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque
- Situações já controladas: Zona histórica de S. Pedro, Bairro dos Moinhos, Santa Luzia e zona da Achada.
- Reacendimentos: Zona do caminho do Monte, S. Pedro, Canhas e Choupana.
Texto por Marta Amorim e Alexandra Matos