“(Desfolhada) é uma música com 50 anos e não há concerto nenhum em que não tenha de a cantar”

Não se revela a idade de uma senhora, e em particular a de Simone, até porque as suas canções não têm tempo. Sol de Inverno e Desfolhada continuam no imaginário dos portugueses, tal como a cantora, mas também a atriz de teatro e televisão. Com quase 20 álbuns publicados, uma mão-cheia de participações em cinema, teatro de revista e programas de televisão, é uma personalidade no mundo artístico do país. Faz 59 anos de carreira, uma carreira repleta de espetáculos e sucessos.

Recorde-nos a sua estreia na música…

A minha estreia na música foi em 1958, no cinema Império. Com a orquestra ligeira da Emissora Nacional, dirigida pelo maestro Ferrer Trindade, com os poemas das canções que concorriam a esse Festival da Canção. Ainda não havia televisão, nem prémios. Os apresentadores eram Carmen Dolores e João Villaret e cada um dizia os poemas das cantigas. É nesse ano que aparece uma canção que ficou conhecida até hoje, o Vocês Sabem Lá, que foi cantada por uma mulher portentosa, Maria de Fátima Bravo. E nesse festival, sabe-se lá porquê, arranjaram dez minutos antes do festival para eu, a gordinha e mal vestida, cantar três cantigas. Adeus, da Júlia Barroso, Os Três Santos Populares, do Max, e uma cantiga do folclore. Tinha um vestido cinzento que parecia um abajur, sem pintura.

Sendo uma pessoa tão multifacetada, se pudesse abraçar só uma carreira, seria a musical?

Não é fácil de responder. Eu gosto muito de teatro, gosto muito de televisão e de conversar em televisão. É uma mescla muito complicada, embora eu a cantar desabafe muito, ou através das letras dos poetas ponha muito cá para fora, das muitas alegrias, mágoas, tristezas, solidões.

Qual o momento mais marcante da sua carreira musical?

Há vários. Na década de 60, fui à Eurovisão com o Sol de Inverno, depois, ainda na década de 60, volto a ir à Eurovisão, com a Desfolhada. Mas o regresso da Desfolhada penso que é uma coisa que ficou agarrada ao país, não porque eu o digo, mas porque os outros o dizem. Se pensarmos que é uma música com 50 anos e que não há concerto nenhum em que não tenha de a cantar… Há vários, momentos de teatro também, A Tragédia da Rua das Flores, as várias revistas que eu fiz. São momentos marcantes em várias facetas, em várias décadas.

Trabalhou com vários artistas. Consegue destacar algum em especial?

Amélia Rey Colaço, que me perguntava porque é que eu tinha a mania de cantar com o microfone à frente da cara, se era tão bonita. Trabalhar com ela foi das coisas mais espantosas. Ter a Mariana Rey Monteiro a dizer-me “Simone, você tem os tempos de comédia da minha mãe” foi talvez das frases mais bonitas que me disseram quando eu estava a fazer televisão.

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