Bombeiras de Arouca ajudaram a salvar vidas

Quase um terço da área total que ardeu em Portugal este ano foi destruída nos fogos de Arouca e de São Pedro do Sul. No dia 13 de agosto, em 15 incêndios ativos, o de Arouca era o mais preocupante para a Autoridade Nacional de Proteção Civil e chegou a concentrar 700 operacionais. Entre eles, Marta Pereira e Patrícia Vieira, que fizeram a diferença no terreno.

Marta Pereira, 30 anos, Bombeiros Voluntários de Arouca

Marta Pereira, 30 anos, estava exausta nesse dia. Em 14 anos de voluntária, conta que apenas experienciou uma situação semelhante em 2005, embora claramente menos intensa. Foi por isso que pediu a rendição da equipa após horas sem conta a combater as chamas e dirigiu-se a casa para descansar. Não conseguiu.

As notícias que lhe chegavam pelos media não eram animadoras − Arouca continuava em perigo. Quando voltou ao quartel a oferecer ajuda, mal teve tempo de estudar a topografia da missão seguinte. Não era preciso. O tanque de abastecimento em que seguiu com apenas mais dois bombeiros tinha como destino Vilarinho, a aldeia onde cresceu e que conhecia como a palma da mão. A aldeia onde a sua família − pais, tios, primos e cunhados − se encontrava cercada pelas chamas. Recorda-se das casas que defendeu, de mangueira em punho, das pessoas aflitas e de toda a sua família na rua, desesperada e pronta a ajudar. “Não havia como retirar as cerca de 50 pessoas que ali habitam. Estávamos rodeados pelo fogo. E houve pelo menos uma situação em que temi pela minha vida… Foram cinco minutos tão intensos… que me pareceram a vida inteira.” Sobreviveu. E regressou a casa, apercebendo-se de que tinha sido a primeira vez que o seu filho dormira fora de casa. “O meu filho tem muito orgulho nos pais, que são bombeiros voluntários. Quando passa um carro de bombeiros, pergunta-me logo: ‘Mamã, são os nossos (de Arouca)?’”, recorda a bombeira voluntária de Arouca, funcionária de uma empresa da indústria automóvel que nas horas vagas defende as aldeias em chamas.

 

Patrícia Vieira, 26 anos, Bombeiros Voluntários de Arouca

Embora façam parte da mesma corporação, Patrícia Vieira e Marta Pereira nunca se cruzaram nos fogos. Patrícia, a única mulher bombeira motorista do quartel, combate fogos há sete anos. Durante o dia, trabalha nos Bombeiros de Arouca, mas quando sai pela noite fora ao toque da sirene fá-lo em regime voluntário. Ou seja, ganha zero. Neste verão, recorda que viveu os momentos mais difíceis de todo o seu percurso enquanto bombeira. “Perdi a noção dos dias. Já era quinta-feira e eu ainda julgava que era segunda…”. Em Meitriz, uma aldeia característica pela sua traça tradicional e pela praia fluvial, Marta chegou a ficar cercada pelas chamas. “Quando regressei ao quartel, os meus avós tiveram que levar lá a minha irmã de nove anos. Ela só pedia para me ver. Queria saber se eu realmente estava bem, se no meio de tantas chamas eu estava viva.”

Patrícia partilha o desalento de um concelho outrora verde e com pontos de atração turísticos que deram lugar a terra queimada e triste. Mas realça a boa vontade das gentes, que nunca abondaram os soldados da paz em Arouca: “Nunca faltou nada no quartel, os habitantes levavam-nos comida e água, os escuteiros foram incansáveis.”

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