Slow Food: Mais devagar, por favor

A última novidade da nutrição.

Numa edição marcada pela velocidade dos meus heróis de verão, convido a abrandar o ritmo à mesa. Slow Food não é só o oposto de fast food e vai muito além do comer devagar. Agora que lhe abri o apetite… continue a ler.

Aos fins de semana, vou ao mercado local comprar as frutas e os legumes da horta dos próprios agricultores, que me entregam os seus produtos aromáticos, ainda com vestígios da terra suculenta e tratada à mão. E não dispenso o sentar à mesa sem hora marcada, com tempo para conversas longas, que se estendem pela tarde fora, introduzindo sem pressas cada entrada e cada prato. Aos fins de semana, o meu conceito é este. E até parece que andei a ler Petrini.

Quem é Petrini?

Carlos Petrini é conhecido como o fundador da Slow Food, uma tendência internacional que atualmente conta com mais de 100 mil membros a defender uma “comida boa, limpa e justa” em mais de 150 países. Por outras palavras, Slow Food é uma comida que sabe bem e que é produzida de uma forma limpa, respeitando o ambiente, a saúde humana e animal, devendo os seus produtores e agricultores receber um valor justo. É o oposto da comida processada fast food, mas na verdade nasceu a partiu dela. A chegada da cadeia McDonald’s a Itália, em 1986, foi recebida como um sinal de alerta para Petrini, o jornalista italiano a quem vamos fazer a vontade de o tratar por “gourmet profissional”. Um homem como Petrini, habituado a sentar-se durante horas nas trattorias da montanha a apreciar os pratos preparados pela dona do restaurante e os vinhos produzidos nas áreas locais, sentiu que a comida tradicional italiana estava em risco. Podia ter-se juntado ao protesto que irrompeu pelas ruas de Roma contra “a americanização de Itália”, mas preferiu uma forma de luta mais slow: distribuiu pratos de penne pelos manifestantes, o que algum tempo depois daria origem ao Manifesto Slow e consequentemente ao Movimento Slow Food, simbolizado pela cobra. A cobra foi escolhida “porque se move devagar, comendo calmamente ao longo da sua vida”. Além de que, conforme explica o Movimento Slow Food norte-amaericano, “é também uma especialidade de Bra, uma zona de Itália e berço deste movimento”.

 

Um testemunho Slow Food em Portugal 

Raquel Tavares faz parte do Slow Movement Portugal (inspirado na filosofia Slow Living, que na verdade derivou do Movimento Slow Food) e explica-nos a necessidade de alterarmos hábitos à mesa, seja “fazer das refeições um momento de harmonia, de calma e de conversa com todos”, seja mudar comportamentos de consumo, como “apoiar os produtores locais”. São mensagens como estas que a presidente da direção transmite nas atividades organizadas pelo movimento sediado naquela que considera ser uma slow city, Arruda dos Vinhos: “Nas sessões de slow cooking, um dos nossos elementos faz um arroz slow enquanto fala sobre o movimento.” Hoje em dia, poucos compram o vinho diretamente ao seu produtor de confiança e muito menos nos deslocamos à horta do agricultor para comprar a galinha e a fruta, uma realidade já contestada por Petrini na década de 80. Mas para pessoas como Anna Carolina, estes hábitos fazem parte do seu dia a dia. Desde cedo familiarizada com as tradições gastronómicas herdadas pelos bisavós italianos, que sempre compraram a comida aos vizinhos e a pequenos produtores, Anna não prescinde do “faça você mesmo e de comer bem”. Conta-nos que consome “o mínimo de produtos industrializados e cheios de conservantes” e que a sua opção de se mudar de Lisboa para uma casa na Ericeira foi também baseada em critérios slow food. Em Portugal, o conceito ainda soa a uma espécie de new age, mas, por ter estudado numa escola italiana, Anna já conhece o termo desde os 17 anos: “Lembro-me do trabalho de 12.º ano de uma amiga de escola ter como tema Slow Food versus Fast Food“. Anos mais tarde, implementa este ‘modo de vida’ na prática: “Alguns produtores a quem compramos produtos acabaram por se tornar amigos e até já tivemos oportunidade de os ajudar na plantação.” Além de vegetais, frutas e ovos, Anna também privilegia os produtos artesanais de pequenos produtores, a quem compra cerveja, vinho, queijos, roupa e produtos de higiene pessoal.

Como irá o movimento Slow evoluir no futuro?, perguntou, em entrevista, um jornalista do jornal britânico The Independent a Petrini. “Todas as gerações têm de começar de novo do zero.”

 

 

 

 

 

 

 

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