Mitos da Saúde desmisitificados

Saúde: 7 Mitos muito badalados

Perguntei a sete médicos, de diferentes especialidades, qual é aquele que consideram ser o maior mito nas suas áreas da saúde.

Pequenas lições que nos podem ajudar a levar uma vida mais saudável.

Acha que o reumatismo é uma doença de velhos? Ou que a vitamina C previne a gripe? E que comer hidratos de carbono engorda?

Nem tudo o que se diz sobre saúde é verdade. Muitos conselhos que recebemos ao longo da vida, e que sobreviveram a gerações… não têm fundamento. Alguns não passam de crenças, mas perduram no tempo e chegam aos consultórios dos médicos.

A vitamina C previne a gripe e outras infeções respiratórias.

José Agostinho Santos

Medicina Geral e Familiar

Durante anos, esta ideia foi ‘vendida’ como medida confirmada, comprovada e altamente benéfica, pelo que, ainda nos dias de hoje, vários pacientes abordam a vitamina C sob a luz de possível medida preventiva. No entanto, efetivamente, não há estudos que suportem esta ideia como medida preventiva no âmbito da medicina geral e familiar.

Existe um estudo realizado há uns anos que abordou o uso da vitamina C na prevenção de síndromes infeciosos em atletas de grande competição e submetidos a grande desgaste físico e a condições atmosféricas agrestes. Ora, como estes constituem apenas uma faixa dos atletas e uma ínfima fração da população, não fará muito sentido divulgar a vitamina C como medida primária na prevenção de infeções respiratórias.

Apesar disso, a vitamina C é, de facto, essencial para o nosso organismo, pelo que as doses diárias recomendadas devem ser tidas em conta. Mas não por prevenção de infeções respiratórias.

 

As vacinas provocam autismo.

Hugo Rodrigues

Pediatria

Esta afirmação é completamente falsa, mas surgiu em 1998, quando foi publicado um artigo na revista The Lancet, da autoria do investigador Andrew Wakefield, no qual se associava a vacina contra o sarampo, a rubéola e a papeira ao aparecimento de 12 casos de autismo.

No entanto, os erros de desenho e as conclusões do estudo eram de tal forma significativos, que a própria revista The Lancet reconheceu, em 2000, que o artigo publicado em 1998 continha resultados “fraudulentos e desonestos”. Contudo, o pânico na população geral já se tinha propagado de tal forma que o impacto na sociedade se mantém (infelizmente) ainda hoje, dando origem a movimentos antivacinas um pouco por todo o mundo.

 

 

O reumatismo é uma doença de velhos.

Ana Filipa Mourão

Reumatologia

 

Falso! O reumatismo é um termo genérico utilizado para descrever mais de 100 doenças designadas como doenças reumáticas. Estas patologias atingem não só as articulações, os ossos e os músculos, mas também podem envolver a pele, o coração, os pulmões, os rins, o sistema nervoso, o intestino, o sangue, entre outros. Algumas doenças, como a osteoartrose e a osteoporose, são mais frequentes nas faixas etárias mais avançadas, mas as doenças reumáticas podem ocorrer em qualquer idade, e existem muitas que começam na idade jovem (por exemplo, a artrite idiopática juvenil, o lúpus eritematoso sistémico, a espondilite anquilosante).

Por outro lado, existe na população em geral a noção de que quando ficamos velhos a dor é inevitável e não podemos fazer nada para a controlar. Contudo, se a dor nas articulações, nos músculos ou nos ossos é grave ou persiste durante algumas semanas, é importante consultar um reumatologista. Viver com dores e rigidez no corpo não é algo que a pessoa deva aceitar ou conformar-se. Procure ajuda! O reumatologista é o médico indicado para diagnosticar e tratar as doenças reumáticas.

 

 

Os hidratos de carbono (à noite) engordam!

Pedro Carvalho

Nutrição

 

Mentira! É preciso perceber, de uma vez por todas, que aquilo que causa o aumento de massa gorda é a ingestão de mais calorias do que aquelas de que precisamos. A restrição de hidratos de carbono provoca uma diminuição brusca de peso (1-2 kg) devido à diminuição da água que está armazenada com eles no músculo e, como tal, não é uma diminuição ‘real’.

Existem pessoas a mais (particularmente do sexo feminino) a autoinduzirem uma restrição crónica de hidratos de carbono (só à noite ou no dia todo) sem qualquer razão de ser. Particularmente quando existe prática de exercício regular e de elevada intensidade, esta restrição de hidratos de carbono sabota muitas vezes quer melhorias na performance, quer na composição corporal. Sim, o músculo para crescer não precisa só de proteína, mas também de hidratos de carbono!

Por isso, treine (muito) bem, coma melhor e faça-o com consistência. Lembre-se de que um corpo mais musculado precisa de mais calorias e permite um melhor controlo de peso.

 

Os testes de intolerância alimentar detetam alergia aos alimentos.

Elisa Pedro

Alergologia

 

Errado! Apesar de estarem na moda, os testes de intolerância alimentar não têm qualquer validade no estudo da alergia alimentar e não têm qualquer fundamentação científica. Também não são válidos para o diagnóstico da intolerância à lactose ou ao glúten.

 

 

Os diagnósticos em Psiquiatria são apenas “etiquetas” para comportamentos normais.

Diogo Guerreiro

Psiquiatria

 

Para quem nunca lidou com alguém com uma doença mental (como amigo, familiar ou mesmo técnico), pode parecer que determinados sintomas psicopatológicos são muito semelhantes a emoções ou a comportamentos normais. Por exemplo, como traçar a linha entre a tristeza normal e a patológica, ou quando é que falamos de timidez ou de ansiedade social, ou quando é que a organização se torna uma compulsão? No entanto, tal como a diferença entre um tumor benigno e um cancro, os sintomas na perturbação mental são bem diferentes das emoções ou dos comportamentos “normais”. Habitualmente, quando determinada emoção ou comportamento se torna debilitante ao ponto de o paciente não conseguir funcionar do ponto de vista profissional, social ou familiar, estamos muito provavelmente perante uma doença mental.

 

O diagnóstico (a “etiqueta”) torna-se nestes casos particularmente importante, por várias razões: para o próprio paciente saber com o que está a lidar; para os técnicos intervirem da melhor forma, e de acordo com o que se sabe do ponto de vista científico para esse diagnóstico; também para a evolução da ciência, pois é necessário que os investigadores falem uma linguagem comum para compararem resultados e discutirem as possíveis linhas de investigação.

 

Os problemas de saúde mental (ou doenças psiquiátricas) são muito frequentes. Na verdade, quase um em cada cinco portugueses terá um problema de saúde mental diagnosticável ao longo da sua vida, de acordo com os dados da Direção-Geral da Saúde. Felizmente, hoje em dia, há vários tratamentos eficazes, quer em termos medicamentosos, mas também várias psicoterapias e intervenções de estilo de vida (como a prática de exercício físico, a meditação e intervenções nutricionais).

 

 

Existem dois tipos de orgasmo nas mulheres: orgasmo clitoridiano e orgasmo vaginal.

Ana Carvalheira

Sexologia

Falso. Tal diferenciação não faz sentido. Existe o orgasmo, sendo que o clitóris é o ator principal. e a sua estimulação, mais ou menos direta, é fundamental para o orgasmo, que é sentido no terço externo da vagina.

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