Como ajudar Vila de Rei…?

Fala-se em atrair pessoas e investimentos para o interior do país. Maria Lopes, aos 40 anos, decidiu abandonar a sua carreira numa multinacional em Lisboa para tornar-se apicultora no Portugal profundo, em Vila de Rei, no centro geodésico do país. Aqui adquiriu colmeias e começou a produzir mel com características únicas e típicas da região.

Os fogos que começaram dia 13 em Vila de Rei queimaram-lhe todas as suas colmeias: 100 colmeias, cada uma com cerca de 50 mil abelhas. Esteve de mangueira na mão a defender os seus bens, as vidas humanas e as propriedades dos seus vizinhos. Cinco dias depois, fala-se em perigo de reativação. Maria desconfia. Com a voz desolada e embargada, desabafa: “não há nada mais para arder… está tudo queimado…”.

 

Eram 18h do dia 13 de agosto quando o fogo saltou o rio de Ferreira de Zêzere em direção a Vila de Rei. “Começámos a ver os pássaros a fugir na nossa direção e surgiram as labaredas…”. De imediato pediram ajuda aos bombeiros. Os bombeiros não chegavam. Maria e os restantes habitantes muniram-se de mangueiras e preparam-se para o pior. O fogo chegava. Os bombeiros não. “Diziam que estavam a fazer os seus possíveis. Eu acredito. Mas estes possíveis não eram suficientes”. Um dos proprietários, sem conseguir já atravessar as labaredas para a aldeia de Cabecinha, dirigiu-se aos bombeiros, exaltou-se, e com a GNR presente, teve ordem de prisão.

Às 23h45 chegaram os bombeiros. Os tanques já não traziam água. Mais, “os equipamentos dos tanques não estavam adaptados às bocas de incêndio que existem na aldeia”, conta Maria, que continuava em alerta. “Após apagarem fogos, alguns de casas já sem tecto, foram embora, cansados, com sede e fome. Acredito que fazem o melhor. Mas naquela altura, precisávamos de mais…”.

Limpeza da propriedades? Mas como, pergunta Maria, se as câmaras não sabem muitas vezes quem são os proprietários. Bons acessos por estrada para os bombeiros poderem atuar nestas circunstâncias? Mas quando, pergunta Maria, quando o tema só é abordado em fase de campanhas eleitorais.

Como podemos ajudar, perguntamos nós. “Visitando o concelho talvez não. As lindas praias fluviais estão agora em zonas totalmente destruídas… A oficina do único tanoeiro do concelho e um dos poucos do país já não existe…”.

Maria não baixa os braços, apesar de também ela consumida por dentro. Nos próximos dias, se a força não lhe faltar, estará na Feira da Fruta, em Caldas da Rainha, a vender mel. O mel que não é um mel qualquer. É um mel do interior do país, rico para a saúde. (By Quintal)

“Também o país vai sofrer com este fogo. No próximo ano, é possível que tenha que importar mel de países sem capacidades para produzirem um mel tão bom como o nosso”, revela com tristeza Maria.

“Tenho recebido chamadas de pessoas a perguntar como podem ajudar. Comprem produtos, como o delicioso queijo, do interior do país. O interior do país precisa…”

 

 

 

 

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