A americana que queria ser rainha de Portugal

“A viúva dos 10 milhões” que levou joias de Portugal

Considerada pela nobreza da época como uma “caçadora de fortunas”, a vida de Nevada Hayes, a norte-americana que casou com o Infante D. Afonso, Duque do Porto, foi transformada em livro – “A Americana Que Queria Ser Rainha de Portugal – A incrível história de Nevada Hayes” – pelas mãos de Ana Anjos Mântua.

A obsessão de Nevada Hayes pelo luxo era tão grandiosa que amor é a palavra que menos nos vem à memória quando recordamos o seu casamento com o príncipe D. Afonso. A verdade é que “A americana que queria ser rainha de Portugal”, uma das mulheres mais faladas na imprensa da época, reclamou ao Estado Português um património valioso que acabou mesmo por sair do país. Uma história deliciosa (e real), contada na primeira pessoa, por Ana Anjos Mântua.

No livro A americana que queria ser rainha de Portugal, a Ana Anjos Mântua aventurou-se no romance histórico. Como é que uma historiadora decide romancear?

Como historiadora, sempre me habituei a escrever a partir de provas concretas, de documentos e de factos. Mas quando apresentei à Sofia Monteiro, da Manuscrito, o projeto para uma biografia de Nevada Hayes, a aceitação, embora imediata, teve a condição de ser um romance narrado na primeira pessoa. Confesso que, de início, a ideia me assustou um pouco, mas uma maior reflexão sobre o assunto levou-me a concluir que a Sofia tinha razão. Pela sua vivência tão diversa, tão apaixonada, tão excitante, tão manipuladora, tão arrebatadora, chegando a tocar a excentricidade, a vida de Nevada dava um filme! Conclusão à qual os leitores certamente chegarão.

Contudo, este livro foi construído sobre uma investigação e um suporte documental fidedignos, em que pretendi retratar e repor verdades, e onde a ficção ocupou um lugar secundário. Experimentei um outro tipo de narrativa, ao qual não estava habituada, e acabei por escrevê-lo com um enorme prazer.

Nevada Hayes, “A americana que queria ser rainha de Portugal”, era oriunda de uma família humilde do Ohio, mas desde cedo se esforçou por subir na vida, tornou-se milionária e acabou por se casar com D. Afonso, tio do último rei de Portugal. Para Nevada Hayes, querer era poder? O que mais a impressionou nesta personagem real?

Todos os relatos a identificavam como uma mulher que não olhava a meios para conseguir o que pretendia, arrogante, calculista, obsessiva, mal-educada, enfim, um rol de inúmeros defeitos. Mas Nevada não era só isto! Apesar da sua ascendência humilde, desde muito cedo percebeu como era importante ter uma educação. Foi uma excelente aluna, sempre no quadro de honra, e chegou a lecionar na escola primária que frequentara em criança. No entanto, a ambição levou-a mais longe, ao candidatar-se a um lugar no Ministério das Finanças, em Washington. A partir dessa altura, começou a sua grande aventura: casamentos, divórcios e uma viuvez que a deixou milionária, permitindo-lhe ter a vida por ela sempre almejada, ou seja, viver na Europa e ser reconhecida como membro da alta sociedade europeia. Sim, para Nevada, querer era poder! Conseguiu tudo aquilo com que sonhou, até casar-se com um príncipe, D. Afonso, duque do Porto, irmão do então já falecido rei D. Carlos. Apesar de acreditar que ela o amou de facto, estou convencida de que as razões que, de início, a levaram a aproximar-se dele foram as de conseguir um título que iria enobrecer o dinheiro que já possuía.

Podemos deduzir que Nevada era uma mulher apegada aos luxos e aos bens materiais? Que papel é que este apego teve no rumo da sua vida?

Conhecida e noticiada em todos os jornais como a “viúva dos 10 milhões”, Nevada levou uma vida luxuosa. De gostos muito sofisticados, vestia-se nas mais famosas casas de alta-costura, desenvolvendo, ao mesmo tempo, um estilo muito próprio, que era imitado por outras mulheres, encomendava joias aos melhores joalheiros europeus e americanos, viajava pelo mundo inteiro e vivia nos hotéis mais luxuosos.

Após a morte de D. Afonso, Nevada Hayes herdou e levou do país muitos bens da coroa. Que bens foram esses e que rumo tiveram?

O casamento de Nevada com D. Afonso foi morganático, isto é, o cônjuge não teria direito a herança nem à utilização do título, o qual só D. Manuel II, último monarca no exílio, podia conceder. No entanto, D. Afonso elaborou um testamento no dia seguinte ao casamento, tendo sido ratificado na Legação Portuguesa, em Madrid. Os bens que Nevada levou de Portugal, em 1925, não eram da coroa portuguesa, pertenciam aos bens pessoais dos Braganças. Existe uma distinção entre bens da coroa e bens pessoais dos monarcas. Contudo, não deixou de ser um conjunto patrimonial valioso que saiu do país. Joias, gemas, objetos de ouro e de prata, serviços de porcelana europeia e da China, serviços de vidro e de cristal, roupas e bragal, livros raros e antigos, mobiliário e um núcleo muito significativo de pintura.

Todos estes bens foram levados por Nevada para o seu apartamento em Nova Iorque e só após a sua morte os herdeiros os alienaram. Algumas joias, por serem as peças que mais facilmente se identificam, foram localizadas em vendas realizadas nos anos 70 e 80 do século XX em leilões em Londres e em Nova Iorque.

Faça download gratuito da app Júlia – De Bem com a Vida. Através da App Store ou Play Store!

Comentários

comentários