Lá estava eu na estreia, sábado à noite, inundada de expectativas que haveriam de ser superadas ao longo do espectáculo. “Simone, o Musical” não é ‘só’ uma peça com base na vida e carreira artística de Simone de Oliveira.
É também um retrato da vida das mulheres portuguesas na época.
Palmas para Simone.
Violência doméstica. Maternidade. Honra. Direitos. Está lá tudo. Neste espectáculo, está a vida de uma mulher que, na minha opinião, fez mais pela dignidade/liberdade das mulheres do que muitos movimentos feministas que nasceram nos pós-25 de abril.
Estão também lá as canções. Canções que Simone eternizou. Da “Desfolhada Portuguesa” ao “Sol de Inverno” e que, como alguém dizia e bem, fazem parte das bandas sonoras da nossa vida. O Musical recorda-nos o duro momento em que Simone perdeu a voz e lembra-nos de quando recomeçou a cantar (foi o fadista Carlos do Carmo, que a desafiou a voltar a cantar depois de ter perdido a voz).
Além das brilhantes participações de Sissi Martins e de Maria João Abreu (que interpretam Simone em fases e idades diferentes da sua vida), há um momento muito especial naquele palco entre Simone e o ator e encenador Varela Silva (interpretado aqui pelo José Raposo), com quem Simone se casou. Aquela intimidade recriada em palco, a marcar uma conjugalidade, também artística, única e muito real. Comoveu-me.
Palmas para Simone. Este Musical é de uma extraordinária vertigem, de alguém que tem a coragem de ver e recriar a sua vida em palco. Palmas para Simone. Está tão bonita. Está ainda mais deslumbrante. Com todas as suas rugas que expressam tanta vida, tantos desafios e obstáculos ultrapassados. Palmas.
É maravilhoso ver alguém ser homenageado em vida.
Foto: Rádio Renascença