No Dia Mundial do Coração partilho convosco uma história de amor extraordinária que começou no meio da Segunda Guerra Mundial. George e Jean Spear conheceram-se num baile. Ele convidou-a para dançar nessa noite e, durante 75 anos de casamento, nunca mais se largaram. Morreram agora, com apenas 5 horas de diferença.
Parece uma história saída de um conto de fadas. Mas não é. É bem real. George e Jean Spear conheceram-se num salão de baile, nos arredores de Londres, em 1941, quando o navio do canadiano, que servia as Forças Armadas, estava atracado no Reino Unido, durante a Segunda Guerra Mundial.
Ela tinha 18 anos. Era bombeira e queria ser jornalista, mas a redação do jornal onde trabalhava como secretária fora destruída por uma bomba alemã. Ele tinha 21 anos, era natural de Otava e sargento do Corpo Real de Engenheiros do Canadá. Ela usava um vestido vermelho. Ele calçava botas da tropa. Juntos, dançaram a noite inteira e apaixonaram-se. “Assim que a vi, soube que era ela. Nunca mais lhe tirei os olhos de cima”, contou George ao jornal canadiano Ottawa Citizen, em 2016.
Casaram um ano depois, a 22 de agosto de 1942 em Kingston Upon Thames, e Jean, que usou um vestido de noiva emprestado pela filha do talhante, passou a ser conhecida como a “Senhora Spear”. No entanto, apesar de casados, Jean e George só começaram a viver juntos dois anos mais tarde. Depois de Londres, ele foi enviado para Itália e para o Norte de África e só a seguir para Otava, no Canadá.
Em 1944, com a guerra ainda a decorrer, George tratou de tudo para que Jean pudesse embarcar num comboio naval da Cruz Vermelha em Londres, com destino ao Canadá, e ir ao seu encontro. Segundo conta o jornal canadiano, esta foi uma operação digna de agente secreto: Jean recebeu um telefonema com ordens para fazer as malas e se encontrar com uma mulher, até então desconhecida, no porto. Nem sequer teve tempo para se despedir da família.
Numa entrevista à BBC, Jean descreveu o momento do reencontro como uma cena de um filme romântico. “Estava a nevar e foi a tempestade mais incrível que vi em toda a minha vida. O George veio a correr na minha direção, aproximou-se e enrolou o casaco dele em mim”, revelou.
Após estar finalmente reunida com o marido, Jean tratou de ajudar quem deixara para trás. Fundou o primeiro clube de “noivas de guerra” do país, como ficaram conhecidas as mulheres europeias que casaram com soldados canadianos durante a Segunda Guerra Mundial. Foi o trabalho que aqui desenvolveu que valeu a Jean uma condecoração pela Ordem do Império Britânico, concedida pela rainha Isabel II em 2006. Mais tarde, em 2011, o casal foi convidado pelo príncipe William e pela duquesa de Cambrigde, Kate Middleton, para um encontro durante uma visita que o casal real fez ao Canadá.
Durante o jantar, a duquesa de Cambrigde perguntou a George se tinha andado sempre com Jean, até ao fim da guerra. “Até ao fim da guerra e depois dela”, respondeu ele.
Na verdade, foram 75 anos de vida em comum, interrompidos apenas pela morte. Na semana passada, ambos foram internados no Queensway Carleton Hospital, no Canadá: ela com uma pneumonia, ele sem causa aparente senão um sono muito profundo. Jean, com 91 anos, morreu primeiro, às 4h30, e George, com 94, seguiu-a cinco horas depois, às 9h45.
O casal deixou dois filhos, Heather com 70 anos e Ian com 67. “Contamos histórias para tentarmos sentir-nos melhor. Mas isto desafia qualquer tipo de lógica. Fomos surpreendidos com a rapidez com que tudo aconteceu”, disse Heather ao Ottawa Citizen.