Menopausa: as perguntas que temos medo de fazer

Menopausa: as perguntas que temos medo de fazer

Vagas de calor… e não é agosto. Lapsos de memória e não é Alzheimer. Palpitações que mais parecem um problema cardíaco. E uma sensação de tristeza e ansiedade que poderia bem ser depressão. Afinal, é (só) a menopausa?

Doris Lessing, Prémio Nobel da Literatura em 2007 e “contadora épica da experiência feminina”, escreveu: “Só quando se chega à menopausa é que se pode ver como a vida se torna tranquila.” Como assim?, perguntamos nós, mulheres avassaladas pelos estragos dos estrogénios, aos quais nunca demos tanto valor como agora. A culpa é deles, que teimam em baixar nesta fase da vida, assinalando o prenúncio da menopausa. Quando o período cessa e os ovários deixam de produzir óvulos, os níveis de estrogénio (associados à memória) baixam, e lá se vai a estabilidade do humor, da pele, de tudo ‒ até da vagina.

Tranquilidade é, por isso, uma palavra complicada de soletrar nesta fase da vida. Mas é possível, garantem os especialistas em saúde da mulher a quem coloquei algumas das perguntas que todas temos medo de fazer.

 

Tara Allmen, ginecologista especializada na menopausa, certificada pela American Menopause Society e autora do livro Menopause Confidential
Afrontamentos, suores frios, mudanças de humor e esquecimento são apenas alguns dos sinais mais óbvios da menopausa. Como devem as mulheres lidar com estes sintomas, especialmente em locais públicos, como no trabalho?

Os afrontamentos são o sintoma mais comum da menopausa e 80% das mulheres vão experimentá-los. Além disso, eles permanecem durante algum tempo. De acordo com as investigações mais recentes, os afrontamentos podem durar, em média, sete anos. Muito mais do que se pensava anteriormente. Há mesmo algumas mulheres que podem sofrer este sintoma por mais de 20 anos! Quanto a muitos dos outros sintomas, incluindo mudanças de humor, esquecimento, perturbações do sono, fadiga, diminuição do desejo sexual, entre outros, não há como saber quanto tempo vão durar. Por isso, o melhor é mentalizar-se para uma longa estadia.

Existem muitas soluções naturais para ajudar as mulheres a lidar com os sintomas da menopausa, incluindo comer de forma saudável, exercitar-se diariamente, vestir-se por camadas, beber água fria, manter uma temperatura fresca no local de trabalho e em casa, praticar bons hábitos de sono e evitar alguns fatores que podem originar afrontamentos, como alimentos quentes e picantes, álcool, cafeína e stress. Boa sorte com esse último ponto.

A terapia de substituição hormonal (TSH) está envolta em controvérsia devido aos potenciais riscos que lhe estão associados. Afinal, esta terapia é segura ou não?

Quando se trata de considerar a terapia hormonal para ajudar a reduzir os afrontamentos e outros sintomas da menopausa, o mais importante e adequado a fazer é encontrar um profissional de saúde especializado na saúde das mulheres de meia-idade.

Eu também recomendo a qualquer mulher (e homem!) com mais de 40 anos a leitura do livro Menopause Confidential. No capítulo Potions, Patches and Pills, Oh My!, explico os prós e contras da terapia hormonal, bem como os seus riscos e benefícios. Mas, acima de tudo, se é uma mulher saudável e teve a última menstruação há menos de 10 anos, é provável que seja uma boa candidata à terapia.

 

‒ Filipa Cordeiro, fisioterapeuta especialista em saúde da mulher
Com a entrada na menopausa, vou ter incontinência urinária? Como posso evitar esta situação?

Contrariamente ao que muita publicidade nos faz pensar, a incontinência urinária não surge apenas durante a menopausa, podendo ocorrer em qualquer altura da vida da mulher. No entanto, devido a todas as alterações hormonais e fisiológicas que surgem durante a menopausa (e que contribuem para o enfraquecimento dos músculos do pavimento pélvico), esta torna-se num fator de risco para o desenvolvimento de incontinência urinária, aumentando, assim, a probabilidade de vir a desenvolver este problema de saúde. Esta probabilidade aumenta ainda mais se a mulher tiver no seu historial clínico outros fatores de risco associados, tais como obesidade, gravidez, parto vaginal, obstipação, tosse crónica, entre outros. No entanto, nem todas as mulheres desenvolvem incontinência após a menopausa!

A melhor maneira de evitar o aparecimento de incontinência urinária é manter um estilo de vida saudável:

1. Para começar, evite adiar a ida à casa de banho! O nosso dia a dia nem sempre permite fazer uma pausa para urinar quando precisamos e, embora esta ação não seja prejudicial quando acontece esporadicamente, o constante adiar da ida à casa de banho, dia após dia, torna-se muito prejudicial para a bexiga e para os músculos do pavimento pélvico.

2. Evite o excesso de peso, que também contribui para o aparecimento da incontinência urinária, devido à carga constante que as vísceras (os nossos órgãos internos) exercem sobre o pavimento pélvico, enfraquecendo-o ao longo do tempo.

3. Cuide da sua alimentação, de forma a evitar (ou melhorar, caso já exista) uma situação de obstipação, que pode contribuir também para o aparecimento de incontinência urinária.

4. Evite a ingestão em excesso de alimentos irritantes para a bexiga, tais como café, chá e bebidas alcoólicas, sobretudo à noite, pelos seus efeitos diuréticos, bem como refrigerantes e fruta muito ácida. Evite também o consumo de tabaco.

Não se esqueça: é importante ter um papel ativo na manutenção da sua saúde pélvica. Assim, deverá aprender a contrair os músculos do pavimento pélvico, essenciais para a prevenção da incontinência urinária. Estas contrações, conhecidas muitas vezes como exercícios de Kegel, devem ser feitas com regularidade para que esses músculos se mantenham ‘em forma’.

Para compreender melhor qual é o exercício a fazer, ‘aperte’ a vagina e o ânus como se estivesse muito aflita para ir à casa de banho, e de seguida ‘solte’, relaxando essa mesma musculatura. Caso sinta dificuldades em fazer essa contração, ou tenha algum outro sintoma de disfunção do pavimento pélvico, tal como a perda de urina, não se conforme: marque uma consulta com um(a) fisioterapeuta especializado(a) em Uroginecologia para que possa ser feita uma avaliação e definido um plano de tratamento personalizado.

‒ Margarida Figueiredo Dias, médica ginecologista do Serviço de Ginecologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra
É verdade que a menopausa pode provocar osteoporose e que apresenta um maior risco de outros problemas de saúde, como doenças cardiovasculares?

Sim, efetivamente a menopausa é responsável pela perda de massa óssea que se verifica na maioria das mulheres a partir dos 50 anos, sendo igualmente a partir deste acontecimento que as mulheres apresentam um maior risco de enfarte do miocárdio e de acidentes vasculares cerebrais.

Na verdade, os estrogénios são as hormonas mais importantes para a manutenção de uma boa qualidade de vida nas mulheres. São produzidos nos ovários durante a vida fértil e, além de serem a hormona que permite a ovulação periódica (mensal), têm inúmeras outras ações, nomeadamente a nível do osso, onde permitem a fixação do cálcio. Na menopausa, o nível de estrogénios em circulação diminui drasticamente, muitas vezes para valores quase indoseáveis, e uma das consequências mais graves é a osteoporose, muitas vezes silenciosa mas com risco acrescido de fraturas, que se acentua à medida que os anos avançam.

Outra consequência da menopausa é o aumento significativo do risco de doenças cardiovasculares, como os acidentes vasculares cerebrais e o enfarte do miocárdio, neste caso por perda do efeito protetor dos estrogénios, que, quando em circulação na idade fértil, contribuem para manter níveis adequados de colesterol e evitam a formação de placas de aterosclerose e os episódios de isquemia arterial.

As mulheres que fazem terapêutica hormonal de compensação na menopausa apresentam menor incidência de osteoporose, fraturas, AVC e enfarte. No entanto, a terapêutica hormonal não é isenta de riscos e, sobretudo, deve ser sempre prescrita por um médico com conhecimentos adequados nesta área e deve estar sob vigilância adequada, nomeadamente no que respeita à saúde mamária e ginecológica.

Muitas mulheres apresentam queixas de secura vaginal, embora não falem muito nisso por vergonha. Também vou sofrer do mesmo problema?

A maioria das mulheres após a menopausa apresenta queixas de secura vaginal, embora a gravidade das queixas e a sua manifestação no tempo variem de mulher para mulher. São sintomas muito incómodos e de que as mulheres por vezes não falam por constrangimento. Também aqui a falta de estrogénios é a causa desta secura, que resulta de uma atrofia das paredes da vagina e da própria vulva, conduzindo a uma sensação de irritação e/ou comichão local, dor durante as relações sexuais, que pode perturbar ou impedir o desejo e a satisfação sexual, perturbações urinárias, por vezes com algum grau de incontinência e, mais raramente, hemorragias genitais.

Também a secura vaginal na pós-menopausa melhora significativamente com a administração de terapêutica hormonal sistémica contendo estrogénios ou, por vezes, apenas local sob a forma de óvulos ou de pomadas contendo esta hormona.

Atualmente as mulheres podem submeter-se a um tipo de laser vaginal que restitui a consistência e a elasticidade vaginais, com resultados extremamente satisfatórios. Esta técnica, que deve ser realizada apenas por um ginecologista, é rápida e indolor, não necessita de anestesia e colhe já a aceitação e a preferência das mulheres que a experimentaram. Não deve ser considerada uma técnica de medicina estética, mas sim um tratamento de um sintoma da menopausa muito incómodo e limitativo.

‒ The Cleveland Clinic Foundation
Como é que a menopausa afeta a minha sexualidade? Será que existe diferença no desejo sexual, na excitação ou no orgasmo antes e depois da menopausa?

Segundo a The Cleveland Clinic Foundation, a diminuição de estrogénios durante a menopausa pode levar a mudanças na sexualidade, que são variáveis de mulher para mulher. Na verdade, há quem passe a ter mais prazer com o sexo, por desaparecer o receio de uma gravidez não desejada, mas a maioria das mulheres tem menos desejo e menos prazer devido à diminuição das hormonas produzidas pelos ovários.

Além de terem uma menor sensibilidade ao toque e às carícias, o que pode resultar num menor interesse no sexo, as mudanças emocionais, que muitas vezes acompanham este período, podem aumentar a falta de interesse da mulher em relação ao sexo e/ou a incapacidade de excitação.

Níveis mais baixos de estrogénios podem também causar uma redução no fornecimento de sangue para a vagina. Esta diminuição do fluxo sanguíneo pode diminuir a elasticidade e a lubrificação da vagina, tornando as relações sexuais mais dolorosas e afetando o desejo sexual. Mas não pense já que a sua vida íntima acabou! Este problema pode ser solucionado com a prescrição de estrogénios locais e lubrificantes, não havendo motivos para não manter uma vida sexual ativa e saudável.

Faça download gratuito da app Júlia – De Bem com a Vida. Através da App Store ou Play Store!

Comentários

comentários