Miek Wiking: O que é a felicidade?

O contador da felicidade

A partir de hoje pode encontrar nas bancas o livro “O Livro do Lykke” (pronuncia-se luu-kah). Esta palavra dinamarquesa que representa  a Felicidade. E nós fomos falar com o autor.

Lykke segue-se ao conceito de hygge (pronunciado hu-ggah) a arte de estar confortável, abordado pel’ “O Livro do Hygge” tão falado no ano passado.

Meik Wiking é o autor destes dois livros. Este dinamarquês de 40 anos é diretor do Instituto de Pesquisa sobre a Felicidade, Investigador na Base de Dados Mundial da Felicidade e membro fundador da Rede Latino-Americana de Políticas de Bem-Estar e Qualidade de Vida. Também chegou a trabalhar no Ministério dos Negócios Estrangeiros dinamarquês. Vindo da Dinamarca, considerado um dos países mais felizes do mundo, perguntamos-lhe receitas… para sorrir mais vezes!

Miek recebe-nos com um sorriso. Diz-me que adora Portugal, que é “como a Dinamarca mas com mais um pouco de sol”. Quando lhe perguntamos se é muito fácil estudar a felicidade,  admite que não. “Não é impossível, mas é difícil,” esclarece, olhando para o meu olhar surpreso. “É como nos sentimos sobre as nossas vidas, por isso é tão difícil quanto medir algo como a depressão e o stress. Tudo isso é subjetivo – no fim do dia, é como experienciamos a vida. ”

O método utilizado é seguir determinadas pessoas ao longo do tempo e medir o impacto de certos acontecimentos na vida. “Tendo em conta todos esses factores – a relatividade da felicidade, as formas de medir diferentes, e um acompanhamento prolongado – leva-nos a uma resposta bastante fidedigna sobre que fatores devemos olhar para medir a felicidade das pessoas. Sabemos que as pessoas que estão desempregadas são menos felizes que as pessoas que trabalham, que as pessoas que estão doentes são menos felizes que aquelas saudáveis, e por aí adiante. Encontramos, a partir daí, umas boas métricas para medir a felicidade.”

A felicidade dos mais infelizes

O autor conta-nos que “quando olhamos para os dados de uma forma global, vemos que, atualmente, os povos mais infelizes são os da Síria e do Afeganistão.”

Mas, de acordo com Miek, a felicidade não se pode ilustrar apenas com proezas durante a vida. Queremos alcançar objetivos e trabalhamos para isso, e uma vez que os conseguimos agarrar, podemos ser felizes por alguns momentos, “mas depois queremos mais – colocamos mais objetivos, queremos ir mais à frente. Nós somos muito bons a elevar a fasquia da nossa felicidade. Por isso é uma estratégia pouco precisa, se nos regrarmos por aí. Não é algo que nos faz eternamente feliz. Mas assumir que a humanidade é feita para nunca estar satisfeita é algo positivo – deixamos de ter a ilusão que chegar a um objetivo é o que nos vai fazer feliz. É como diz o ditado: “é a viagem, não o destino”.”

A saudade de tempos idos

E quanto aos “bons velhos tempos”? Segundo as estatísticas, o nível de felicidade das pessoas aumentou nos últimos anos.

Mas atenção às redes sociais! “Com a evolução da tecnologia, o uso das redes sociais, existem hoje em dia desafios que não eram realidade há 10 ou 15 anos atrás. E com as redes sociais, as nossas investigações concluíram que estas têm um impacto negativo nas nossas vidas e, particularmente, na forma como encaramos a vida.”

“Pode parecer que atualmente enfrentamos mais problemas de saúde,” avisa, “mas o que acontece é que há mais facilidade em diagnosticar estes problemas; não devem ser dispensados. Alguns países estão na vanguarda no que respeita à desmistificação da saúde mental, mas há muitos outros que ainda têm um caminho muito longo para percorrer. O Reino Unido, por exemplo: este ano passado o Príncipe Harry falou sobre os desafios que ele enfrentou sobre a sua situação a público. São iniciativas deste género que reduzem o estigma. Acho que estamos a dirigir-nos na direção correta – de uma forma lenta demais para o meu gosto, mas melhor do que nada.”

E Portugal? É Feliz?

“Portugal encontra-se em 89º lugar no índice mundial de felicidade, pelo que ainda há muito para fazer para melhorar nesse aspeto,” comenta. Lembramo-nos do Fado, essa canção tradicional tão baseada na angústia. Mas Portugal apresenta dos melhores índices de felicidade para pais, mais do que em pessoas que não têm filhos. Porquê? Miek Wiking coloca a hipótese que se deve à inserção ativa da geração dos avós na vida das crianças. “Liberta muito mais os pais. São seis adultos por média a ajudar a levar a criança à escola, às atividades extra-curriculares, a brincar, e a acompanhá-los.”

E quanto ao Miek? É feliz? “Estou numa fase muito feliz da minha vida. O meu trabalho é imensamente recompensador e permite-me conhecer pessoas por todo o mundo. É uma situação muito privilegiada. Mas tenho os meus bons dias e maus dias, ser humano implica ter preocupações, stress, e todas essas coisas. Faz parte do pacote chamado vida,” ele sorri, uma vez mais. “Não sou um bom candidato para o Fado,” diz. Mas confessa-nos… já andou à procura de um apartamento em Lisboa!

Boa notícia! Queremos pessoas felizes!

 

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