Palmas para a Seleção Portuguesa de Futsal com Síndrome de Down! Os 10 atletas golearam a seleção campeã do mundo e a anfitriã do campeonato, a Itália, por 4 -0, na final. E regressaram a Portugal com a taça nas mãos. Mas a grande recompensa estava no aeroporto, em Lisboa: uma receção comovente e calorosa de familiares e apoiantes.
Os 10 atletas portugueses que venceram a seleção italiana, no passado dia 16 de novembro, em Terni (Itália), têm entre 24 e 43 anos. Começo por falar com César Morais, aquele que foi o melhor marcador do campeonato. Seis golos é obra César! “Foi preciso treinar muito para ganhar esta taça”, conta-me, a transbordar de um genuíno orgulho.
César tem 30 anos e os pais acompanharam-no do Porto a Itália. No regresso, a família estava em peso no aeroporto, com palmas e abraços para distribuir pelos campeões europeus. Mas os elogios ainda não pararam: “na rua, chamam por mim e dizem-me – ‘és o maior em campo'”.
Altura de passar a palavra a Carlos André, 36 anos, o guarda-redes, mais um elemento fundamental nesta vitória, a qual dedica “a todas as pessoas que nos foram receber ao aeroporto”. Carlos, residente em Vila das Aves, conta que receber as medalhas foi uma enorme alegria, mas não esquecerá tão depressa “as claques no aeroporto”. “Foi tanta emoção. Havia gente a chorar de contentamento. Os meus pais choraram ao verem o seu filho tão feliz com os resultados”, partilha. Desde então, o atleta refere que a sua página de facebook ainda não parou de receber mensagens e pedidos de novos amigos. Carlos é um rosto feliz!
Em nome da seleção vencedora, agradece a toda a equipa técnica “fantástica” que acompanhou a vitória em Itália. Pedro Silva, o selecionador, não chega para as encomendas – caem pedidos de reportagens todos os dias. Todos querem saber como se treinam campeões europeus com Síndrome de Down:
“com muitos abraços, muitos afetos. Estes jogadores precisam de sentirem-se confiantes para fazerem uma boa prestação física. Após um golo, é fundamental uma palavra de conforto, um elogio, o toque físico do abraço”.
Os elementos da seleção portuguesa de futsal fazem parte dos 3500 praticantes da Associação Nacional de Desporto para Desenvolvimento Intelectual (ANDDI). Além de desportistas com Deficiência Intelectual e com Síndrome de Down, a associação abrange também autistas, em cerca de 15 modalidades. O que é hoje um projeto consistente e com prémios no currículo começou por ser uma ideia de um professor do ensino especial que identificou a necessidade de criar um serviço ocupacional de desporto adaptado para todos os jovens que terminavam o ensino e ficavam sem praticar modalidades. José Costa Pereira, o fundador, é também o atual presidente. Homem orgulhoso de uma seleção que, à semelhança de outras, tem levado Portugal ao pódio. José Costa Pereira destaca por exemplo as “29 medalhas conquistadas no Campeonato do Mundo para pessoas com Síndrome de Down, que decorreu de 1 a 8 de outubro, na Ribeira Brava (Madeira)”.
Atletas acostumados a fazer muitas “omeletas sem ovos”: “os orçamentos para o desporto adaptado são bastante reduzidos comparativamente aos desportos de outras modalidades chamadas regulares. E vêm frequentemente muito tarde”, comprometendo a presença em campeonatos. Como é o caso dos próximos Global Games, que são disputados na Austrália. Embora o financiamento tenha sido garantido, não há sinal à vista.
Foto: Frame do vídeo de reportagem da chegada ao aeroporto de Lisboa, da seleção portuguesa de futsal para atletas com síndrome Down