“O Natal é uma altura mágica para mim”, Pedro Abrunhosa

Durante os últimos dois anos, Pedro Abrunhosa escreveu e compôs mais de 30 canções. Quinze delas estão neste oitavo álbum de originais, Espiritual, lançado na passada sexta-feira. Falam de violência doméstica, de refugiados, de amor. E incluem vozes fantásticas – a portuguesa Ana Moura, a francesa Carla Bruni, a norte-americana Lucinda Williams, a mexicana Lila Downs e o brasileiro Ney Matogrosso. Espiritual foi este ano o meu primeiro presente de Natal. Obrigada Pedro.

Entrevista realizada no Sheraton Lisboa Hotel, a cuja equipa agradecemos toda a simpatia.

 

Começamos a conversa exatamente por aqui. Pelo Natal. Pedro conta-me que este sempre foi um período mágico para si: “Acreditei no Pai Natal até aos 14 anos”, confidencia. Hoje, seria impossível preservar o sonho até à adolescência, mas na altura, sem redes sociais nem acesso à internet, a metáfora do Pai Natal gozava de uma maior durabilidade. Em sua casa, a tradição repetia-se religiosamente todos os anos, com o Pai Natal a assomar-se à janela e a entrar pela casa adentro para distribuir presentes. “Ainda hoje, o Pai Natal visita-nos”, conta Pedro. E a família reúne-se.

A primeira música deste álbum chama-se Vamos Levantar Voo e é inspirada na relação de amor dos pais de Pedro. “É uma relação de 68 anos. Eu cresci a vê-los juntos. São um exemplo, para mim, do que é uma estrutura de amor.”

Pergunto-lhe se também a componente matriarcal da sua família terá influenciado a decisão de abordar o tema dos maus tratos neste álbum. Também. Pedro fala-nos das mulheres fortes da sua vida, a mãe e ambas as avós. Mas realça sobretudo o choque com os atuais números de violência doméstica (o número de mulheres assassinadas este ano, em contexto de intimidade ou relações familiares próximas, atingiu as 24, mais seis do que no ano passado, segundo dados do Observatório de Mulheres Assassinadas): “É difícil passar ao lado desta realidade”.

Amor em tempo de Muros (terceira canção do álbum) aborda outra realidade atual, a dos migrantes que procuram paz e um chão para educar os seus filhos. E por isso, esta música é gravada no México, com Lila Downs, uma cantora mexicana com voz ativa nesta causa.

Viagens. Pedro já correu mundo. Tinha 13 anos quando partiu de mochila às costas para explorar além fronteiras. “As viagens dão-nos uma noção de independência, de auto-suficiência, mas também de auto-estima e humildade”, refere. “Quando eu viajava, apercebia-me de que aqueles jovens com quem me cruzava eram iguais a mim. E a auto-estima vem daí. Amo ser português e tenho muito orgulho no meu país e nas coisas que fazemos. Sei o nosso lugar no mundo”.

Pedro comenta um episódio recente: “Há dias conheci um jovem de 30 anos que tem uma empresa chamada BDG. E esta empresa de alta tecnologia de vidro exporta para o mundo inteiro. É só um exemplo”.

Mas Pedro não precisa de ir tão longe. “Neste momento estou a usar uma botas de São João da Madeira  feitas à mão. Tomara os italianos terem esta qualidade. Tenho orgulho em usar estas botas. E penso que por detrás destas botas estão dezenas de postos de trabalho. E isto não é nacionalismo. É amor a si próprio”.

Falamos das coisas que Portugal faz bem feito. Falamos da música. E de como Abrunhosa se desviou do ciclo de uma família de advogados, médicos e engenheiros.

“Não foi simples. Ser músico foi uma rutura. Por outro lado, havia tanta música e livros em casa, que era difícil não estar envolvido naquele universo.”

Pedro acabou por dar consistência ao trajeto. E o sucesso tem amadurecido com a idade. Ainda assim, há sempre uma espécie de lema que não esquece. A frase é do seu irmão Paulo (morreu em 2001 com 43 anos): “se um dia for vedeta quero ter um pé na sarjeta” e significa que “é preciso termos a noção do espaço que ocupamos. E sabermos que, apesar de termos mérito e qualidade, não somos diferentes do outros. E por isso ‘o pé na sarjeta’, ou seja, a importância de continuar a olhar para os outros, e de perceber o que posso fazer para melhor a vida dessas pessoas.”

Diria que este álbum é precisamente isso.

 

De bem com a vida é… de bem com os outros. É fundamental que, a 360º, a nossa relação com os outros seja uma relação de bondade.

Ainda há tempo…. mais mais um beijo.

Um homem também chora… quando assim tem de ser. Porque é humano.

Amor… é o bem. É a santidade. Uns chamam-lhe Deus. Eu chamo-lhe Bem.

 

 

 

 

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