O que têm de “especial” as mães de “crianças especiais”?

Características comuns às mães de crianças com necessidades especiais

Por Ana, Mãe, de Bem com a Vida,
Mãe de S., uma criança com necessidades especiais

Recentemente li um artigo espanhol que tinha como título “5 valores que distinguen a las madres de niños con necesidades especiales”. De acordo com este artigo, as mães de crianças com necessidades especiais tendem a ser mães que nunca se rendem; são mães educadoras e reabilitadoras ao mesmo tempo; sabem apreciar os pequenos detalhes; têm uma mentalidade livre de esteriótipos; e, são mais resilientes.

E eu que sou mãe de duas crianças – uma com e outra sem necessidades especiais- fiquei a pensar se poderia realmente distinguir em mim (e noutras mães na mesma situação) certas características específicas. Até porque, para mim, cada uma das minhas filhas é verdadeiramente especial, quer pelas suas qualidades, quer pelas suas habilidades.

Mas será que o facto de ser mãe de uma criança “diferente” me tornou também uma mãe diferente do que era antes?

É verdade que qualquer acontecimento nos enriquece com novos sentimentos e com novas capacidades de reação; pelo que também a vivência, a experiência da maternidade, de cada vez que acontece, aporta novas habilidades e capacidades a uma mãe. Sempre. Independentemente de como seja o filho que nasce, que se cria, que se educa, que se ama. Independentemente de ter ou não necessidades especiais. Mas reconheço, no entanto, que, ser mãe de uma criança com certas limitações do foro motor ou cognitivo, ou de ambas, implica também o desenvolvimento de certas emoções e determinadas habilidades que – estou verdadeiramente convencida- nascem com um intuito de resposta e combate a essas limitações.

Pela minha experiência pessoal, e observando as mães em situação idêntica com quem tenho o privilégio de conviver diariamente, posso identificar algumas características que são comuns às mães de crianças com necessidades especiais:

A resiliência: essa “capacidade de defesa e recuperação perante fatores ou condições adversos”  uma característica frequente nestas mães. E na verdade é uma arma de batalha útil e necessária para se conseguir avançar, pese a todas as adversidades que se encontram pelo caminho.

A capacidade para desdramatizar: as mães de crianças com necessidades especiais vivem muitas situações de preocupação extrema, o que as leva a aprender a selecionar “o trigo do joio” e a encarar com certa leveza certas contrariedades.

A perseverança: de uma maneira geral as mães nunca desistem, mas para estas mães a palavra nunca – palavra que ouvem frequentemente- torna-se uma espécie de palavra- estímulo (assim como uma espécie de psicologia invertida) que as impele a desafiar as leis do impossível e a querer destruir todas as barreiras à evolução dos seus filhos.

A empatia, a tolerância e o respeito pela diferença: a verdade é que estas mães têm a oportunidade de conviver com pessoas que se distinguem das outras não só pelas suas limitações, mas também por inúmeras qualidades que não são visíveis para a maioria das pessoas. Assim, estas mães desenvolvem uma grande capacidade para ver através da incapacidade e saberem o que sentem essas crianças, jovens ou adultos com incapacidade; isso torna-as pessoas mais empáticas, mais tolerantes e com muito respeito pelas diferenças.

Um forte Instinto de proteção: às vezes- e isto pode parecer um pouco contraditório- as mesmas guerreiras que lutam para que os seus filhos com limitações tenham as mesmas oportunidades que os seus pares, são as mesmas que os tentam proteger em demasia por um receio excessivo (eu recordo-me quando pus alguma – para não dizer muita- resistência a que a minha filha participasse no desfile de carnaval do colégio, ao ar livre, porque estava convencida de que ela não ia apreciar essa experiência pelo ruído, pelo ritmo do passeio, etc; afinal, ela adorou!)

E por último, a capacidade de valorizar os bons momentos, os progressos, as pessoas que as rodeiam, etc. Para uma mãe que pode ter que esperar anos até que o seu filho adquira uma habilidade que pode ser normal num bebé de 3 ou 4 meses (como agarrar uma chupeta ou fixar o olhar e esboçar um sorriso), qualquer progresso, qualquer objetivo conseguido é motivo de alegria e festejo sem precedentes.

Afinal de contas, o que realmente nos faz feliz não é a chegada, mas o caminho que percorremos para lá chegar.

 

 

 

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