O resto é conversa, por Magda Fernandes

Humanos de carne e osso, o resto é conversa.

Crónica sobre tolerância

Por Magda Fernandes,
Mulher, Mãe, Advogada. De bem com a vida.

Estou a ver o filme Milk. O meu filho está na sala. O Sean Penn dá um beijo ao namorado. Eu olho para o meu filho – de 11 anos – e digo-lhe: isto é normal. Não tens de te chocar.
Ele responde: eu sei! Toda a gente tem o direito a ter a sexualidade que quiser.
Estou a criá-los bem. É só o que digo.

Não desconhecendo as discussões e divisões profundas da nossa sociedade quanto ao que, a curto e médio e longo prazo, uma aceitação dos direitos da comunidade de homossexuais pode trazer na conservadora ideia de que todos nascemos com o propósito de nos reproduzirmos, a minha posição – de princípio, meio e fim – é simples.

Eu sou heterossexual. Assim nasci. Não fico arrepiada quando vejo uma mulher bonita a passar por mim – eventualmente poderei sentir inveja, mas é tudo. Sei apreciar se é bonita ou feia, atraente ou sem sal, mas não passa disso.

Mas quem sou eu, afinal, para determinar e ajuizar o que podem, devem ou estão obrigados a ser os outros?

Se a questão é de reprodução, o que dizer das mulheres que não podem ou não querem reproduzir? Ou dos homens? São menos homens ou menos mulheres e, nessa medida, devem ser rotulados de “doentes” ou “fora do normal”?

Pois que muitos dos meus amigos são homossexuais. E adivinhem: são exatamente iguais a outros tantos meus amigos heterossexuais.

Têm as mesmíssimas angústias, alegrias, dia-a-dia, sonhos, fantasias, amores e desamores. São feitos da mesma carne e dos mesmos ossos.

Dão beijinhos uns nos outros e fazem amor? E depois?

O que é que qualquer um de nós – cheios de esqueletos no armário – tem a opinar a esse respeito?

Por isso vos digo e é sentido (antes que a pergunta surja): sim, se os meus filhos forem homossexuais, só quero é que sejam felizes e não se cruzem com a intolerância e a falta de respeito de ninguém. E já me darei por satisfeita.

Pelo caminho, ainda é possível que o meu lado de mãe galinha sofra por eles. Por serem incompreendidos. Mas o mal, esse, nunca estará em quem vive em honestidade com o que sente.

O mal está, única e exclusivamente, em quem não o tolera.

O resto é conversa, por Magda Fernandes Magda-Fernandes

 

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