Quando as crianças nos fazem perguntas sobre a morte. O que responder?

Respostas simples às perguntas difíceis dos nossos filhos. É o tema do livro, recentemente lançado por Bárbara Ramos Dias, especialista em adolescência e parentalidade. E mãe de três “doces pestinhas”.

Perguntamos-lhe como falar sobre a morte com as crianças. Será que a história da estrelinha no céu resulta? Como enfrentar as questão de um processo de luto?

“É importante falar, mas lembre-se que ainda mais importante sempre, é ouvir a criança”, explica a psicóloga clínica e docente universitária na área.

Vamos então ouvir as perguntar frequentes da crianças sobre a morte. Bárbara Ramos Dias sugere as respostas.

Para onde foi a avó?
Nuno, 7 anos

O que querem saber? Se vão voltar a ver a avó um dia. Se vão repetir as vivências, se vão voltar a comer o bolo do avó, a cheirar a casa da avó…

As crianças, como se costuma dizer, levam tudo à letra, e não se esquecem daquilo que lhes é dito com facilidade. Assim, se contar a história da “viagem”, eles desenvolvem pensamentos errados, que futuramente podem vir a trazer alguns desafios.
Por exemplo, se alguém próximo tiver de viajar, é perfeitamente natural que a criança associe aquilo que lhe foi dito e julgue erradamente que essa pessoa nunca mais vai voltar, causando bastante sofrimento.

Também é muito comum usarmos a famosa frase “o avó virou uma estrelinha”, que pode levar a criança a acreditar nisso literalmente e a ficar a pensar em maneiras de chegar até lá. As crianças e até cerca de 10 anos não têm capacidade de abstração. O seu psiquismo em construção não consegue captar os conceitos subjetivos. Elas pensam de forma concreta e constroem os conceitos a partir do concreto.

Se a pessoa for muito próxima da criança, e se a morte for por doença, a criança deve estar a par de todo o processo. Partilhe, sem medo, que a pessoa está doente e que é grave. Recorde-o do ciclo da vida das plantas, por exemplo.

Dê nome às coisas e use sempre a palavra “morte”. Isso é bastante importante para que compreenda. Quanto mais falarmos das coisas com naturalidade, mais natural isso será.

Se, por um lado, a morte for inesperada, é preciso ser-se direto e sincero. Consiga um espaço para tirar todas as dúvidas que podem estar a passar pela cabeça da criança, permita o diálogo, sem esconder as suas emoções e com uma atitude de comunicação assertiva.

Possível resposta: A avó foi para onde precisava de ir, foi o melhor para ela. Podemos ter muitas saudades, mas o bem de cada um tem de ser sempre o fator mais importante.

Sabes, ela foi-se embora porque já era velhinha, já viveu muito e estava cansada. E nós tínhamos de ficar sozinhos para aprendermos a ser independentes. Cada um de nós tem a sua função aqui na terra e a função da avó já terminou. O bom é que agora também sabemos fazer o bolo de bolacha que a avó fazia. Tivemos de aprender não foi? Podes também pensar qual foi a mensagem de vida que ela nos deixou, o que aprendeste… é tão bom.
Eu estou em paz, sabes porquê? Porque lhe disse tudo o que queria, o quanto gostava dela, agradeci-lhe tudo o que fez por nós e, acima de tudo, saboreei cada momento com ela. Isso faz com que me sinta mais tranquila e segura.

Tu também vais morrer? E eu?
Clara, 7 anos

O que eles querem saber? Se vão ficar sozinhos no mundo.
Possível resposta: vou morrer, aliás, vamos todos, mas não sei quando, ninguém sabe. Nascemos e morremos, como tudo aquilo que existe, faz parte do processo natural das coisas. Um dia nascemos e também vamos morrer. Como as flores nascem e morrem um dia, não é? Acredito que ainda temos muito tempo para estarmos e fazermos coisas juntos.

Vamos sempre aproveitar cada momento juntos como se fosse o último, vamos ser o melhor que conseguirmos enquanto seres humanos, para não nos arrependermos de não ter feito ou dito alguma coisa.

Estou sempre contigo, no coração e nos pensamentos. Apesar de já sabermos que a morte é uma coisa natural, não precisas de viver com medo que isso aconteça. Deves é aproveitar todos os momentos que o presente te oferece, amanhã logo se vê.
Mas por que estás a perguntar? Tens medo de ficar sozinha? Isso não vai acontecer, mas mesmo que eu morra, tens o pai, a avó, os tios, e quando eu um dia morrer vou estar sempre no teu coração. Nunca nos vamos separar. Lá porque não vive não deixa de existir, lembras-te? Mas isso vai demorar muitos anos, não te preocupes. Só morro velhinha e sem dentes.

Com quem fico se morrer toda a gente?
Rafael, 10 anos

O que querem saber: Se vão ficar sozinhos, e se sim, quando vai acontecer.

Reforço mais uma vez que as crianças precisam que os crescidos lhes deem uma resposta confortável, para não terem medo. Eles precisam de acreditar nalguma coisa.
Explique-lhes com amor as suas crenças, sem as impor.

Possível resposta: A morte é natural, é um processo. Tudo nasce e morre. Já viste que, se ninguém morresse, se as coisas não morressem, o  mundo não tinha espaço para receber coisas novas. Se ninguém se fosse embora, não havia resposta para todos. Mas tu terás sempre alguém que te ama a cuidar de ti, isso é certo!
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