As pessoas devem comer, beber e fumar “tanto quanto quiserem”, Sylvi Listhaug, Ministra da Saúde da Noruega
Tomou posse no início do mês de Maio, mas já é um nome conhecido na imprensa do país e internacional. As declarações da Ministra da Saúde sobre saúde pública são polémicas e pouco consensuais.
“O meu ponto de partida em relação à saúde pública é muito simples. Não pretendo ser um polícia moral e dizer às pessoas como devem viver as suas vidas, mas pretendo ajudar as pessoas a obterem informações que servirão de base para as suas escolhas”, declarou a Ministra Sylvi à televisão estatal norueguesa.
Sylvi Listhaug, ex-fumadora, referiu-se ainda aos fumadores: “Eles praticamente acham que têm de se esconder, e isso é estúpido.”
A Sociedade do Cancro, na Noruega, pronunciou-se quanto aos comentários de Listhaug, referindo que são potencialmente “prejudiciais à saúde pública”.
E por cá, opiniões? Lillian Barros, nutricionista, nasceu no Canadá e formou-se no Reino Unido, em Nutrition and Food Science. Autora de livros como “A Comida que vai mudar a sua vida”, Lillian ajuda os pacientes a criarem novos hábitos nutricionais que podem fazer a diferença na sua saúde.
Perguntamos à também autora do blogue Santa Melancia qual a sua opinião sobre as declarações da Ministra da Saúde norueguesa:
“Posso simultaneamente concordar e discordar da ministra Norueguesa, dependendo da forma como encaramos as suas declarações.
Na verdade, o ser humano é livre das escolhas que faz, sim é certo. Mas a sua liberdade de escolha tem consequências para si próprio, para a sua saúde, bem estar, qualidade de vida e para quem o rodeia, nomeadamente para a sua família.
Quem decide optar por continuar a fumar, ser sedentário e comer de forma desequilibrada está a escolher aumentar as suas hipóteses de adoecer de forma “voluntária”. Se sabendo disto, a pessoa opta por manter o seu registo, então o que pode fazer o Estado? Prender o cidadão em incumprimento? Multar?
As ferramentas de que disponibilizamos é a capacidade de dotar a população de conhecimento: basicamente educar para a saúde, estimular de forma positiva os bons hábitos alimentares e de estilo de vida e não a punição. Considero que, vendo por este prisma as declarações, podem fazer algum sentido. As escolhas são efetivamente livres – do nosso lado, enquanto sociedade, vamos ajudar na mudança. Cada um com o seu papel e o Estado com um papel relevante no que diz respeito à criação de infraestruturas que permitam e incentivem a adoção de uma vida mais saudável.
Ver estas declarações da ministra norueguesa como uma forma de incentivo ao aumento de consumo de tabaco e à desvalorização da importância das escolhas alimentares na nossa saúde é um erro. Devemos, sim, reconhecer a nossa liberdade e fazer dela uma ferramenta preventiva que jogue a nosso favor. ‘Se sou livre, então livremente escolho ser mais saudável.’
Esta é uma forma de responsabilização e não uma falta de preocupação. Se eu escolho fumar eu sei que estou a aumentar a minha probabilidade de vir a desenvolver uma neoplasia do pulmão. Se eu escolho comer fast food diariamente, fritos, excesso de sal e álcool, eu aumento a probabilidade de ser obeso e de desenvolver doenças limitativas e evitáveis que afetam a minha qualidade e esperança vida”.
E a sua opinião?